O interior é aquela coisa a preto e branco, triste, envelhecida e pobre em oposição a outra, colorida, jovem, alegre e rica, o litoral. Perante este fatalismo imposto, e aceite, o que se tem feito? Estraga-se dinheiro com programas e apoios, naturalmente inconsequentes. O que distingue um casal de jovens holandeses que se instala no despovoado Portugal onde é feliz e consegue criar riqueza, dos portugueses que se acotovelam e sobrevivem no litoral? Provavelmente tão só algo tão singelo como a atitude. Não me convencem do interior pobre e tenho muita curiosidade em saber se a mentira que nos impigem, e que a maioria aceita, é por ignorância ou se é intencional?
A pouco mais de 300 km destas terras de Setúbal/Lisboa, nada para um país normal e uma enormidade para um país pequeno como o nosso, descobri um paraíso. Um lugar como muitos outros que se encontram quando nos aventuramos a espreitar para além da cortina. Chega-se a Penamacor, a “pedra maior”, logo depois da A23 até à surpreendente Castelo Branco, e deparamos com um enorme cartaz a anunciar zonas frescas (água) para tomar banho. Neste contexto que a TV nos traz a casa, de secura, calor, incêndios etc. desconfiamos. Muito próximo a serra da Malcata, provavelmente o território português classificado mais despovoado, um luxo, surge no horizonte próximo. É aqui que começa o rio Coa que ruma para norte até ao Douro, um tesouro que temos de saber preservar. Noutras vertentes da mesma serra surgem as ribeiras da Bazágueda e da Meimoa que drenam para a bacia do Tejo, a ligação perfeita às terras das nossas origens.
A Meimoa é uma pequena aldeia, obrigatoriamente atravessada quando se ruma a norte, onde se evidencia uma bonita ponte romano-filipina sobre a tal ribeira do mesmo nome. É este precisamente o tesouro descoberto, a zona balnear da Meimoa. Surpreende um extenso e largo plano de água corrente, cristalina e fresca, imposto por um pequeno açude de madeira. A envolvente é convenientemente arborizada e equipada com tudo o que necessitamos e gostamos. No Bar da Praia, praticamente sem horário, a Andreia e Diogo servem tudo o que podemos imaginar. Nestes dias de forte canícula mergulhar nesta água refrescante é um sonho. Neste e nos outros concelhos à volta há um considerável conjunto de alternativas do mesmo tipo. O que espanta é como se podem ignorar lugares como este que vão sobrevivendo entre o envelhecimento, o despovoamento e o esperar que o próximo Verão traga de novo os filhos da terra que há muito anos partiram.
Esta terra, dita do lince que nunca ninguém viu, é já ali. Boas férias, diferentes e melhores.