Resposta a Maria das Dores Meira

Resposta a Maria das Dores Meira

Resposta a Maria das Dores Meira

28 Outubro 2025, Terça-feira
Diretor do Jornal O Setubalense

Na entrevista que deu agora a O SETUBALENSE e à rádio Popular FM, Maria das Dores Meira criticou o nosso jornal com afirmações que não podemos deixar passar sem a devida resposta, porque “quem não se sente não é filho de boa gente” e, sobretudo, porque os leitores têm o direito de saber o que têm a dizer a direção e a redacção do jornal sobre estas declarações.
A presidente eleita da Câmara Municipal de Setúbal disse sentir “uma grande tristeza” por O SETUBALENSE “ter feito uma entrevista em primeiro lugar àquele que teve o pior resultado que alguma vez a CDU teve [em Setúbal]” e acusou o jornal de ter “levado ao colo André Martins, o executivo da CDU, durante quatro anos”.
Sobre a entrevista feita a André Martins, na semana passada, a explicação é fácil: Só saiu primeiro do que a entrevista a Dores Meira porque a autarca não aceitou dar entrevista mais cedo. O convite à presidente eleita foi feito antes, primeiro para falar logo após as eleições – tendo optado por dar essa primeira entrevista à SIC – e, depois, para ser entrevistada na rádio (igualmente com publicação no jornal) na sexta-feira dia 17 do corrente. Dores Meira não aceitou o convite, pelo que nos foi dito, por razões de agenda, o que é inteiramente legitimo e compreensível. Se essa entrevista tivesse sido feita, teria sido publicada na segunda-feira, dia 20, bem antes da de André Martins, que saiu dia 23.
Por outro lado, mesmo que não tivesse sido assim – não tivesse sido dada oportunidade a Dores Meira para ser entrevistada primeiro – a entrevista a André Martins está perfeitamente justificada. Basta ver a importância da informação revelada. Graças a essa entrevista, O SETUBALENSE revelou – e a cidade e o país ficaram a saber (depois foi noticiado também pela agência Lusa e vários órgãos nacionais, que citaram o nosso jornal) – que o ainda presidente da autarquia não vai sequer tomar posse. É evidente que é notícia e só foi possível saber de tal novidade graças à entrevista que publicámos. Por qualquer critério jornalístico, a entrevista justificava-se (quer por ser a última entrevista do mandato quer pelo teor da informação revelada). O que não se justifica é substituir os critérios jornalísticos por critérios políticos ou partidários para decidir da oportunidade de uma entrevista a um político, porque isso é que está realmente errado. É essa confusão que limita a liberdade de imprensa e que mina a democracia. O SETUBALENSE, e qualquer jornal, não deve ter de preocupar-se sobre o que pensam os políticos e os partidos quanto à oportunidade do seu trabalho, mas apenas em guiar-se pelos princípios jornalísticos da atualidade, proximidade, isenção e rigor. Não temos de fazer esperar entrevistas ou outros conteúdos para dar precedências, muito menos quando as agendas pessoais não permitem conciliar essa atenção com a atualidade. O jornal publica-se todos os dias úteis, o que significa que temos de avançar se alguém que tencionávamos entrevistar antes só pode depois e que, sem dramas, se uma entrevista não sai hoje, pode sempre sair amanhã ou depois. Não se percebe, portanto, a tristeza de Dores Meira com o facto de a entrevista a André Martins ter acabado por sair primeiro. Até porque isso lhe deu a vantagem de ter a “última” palavra. Se acabasse por ser ao contrário, O SETUBALENSE poderia ser igualmente criticado, precisamente por isso.
Já a afirmação de que o jornal “levou André Martins ao colo”, é mais grave. A primeira é um mero desabafo emocional, expressa “tristeza”, mas esta segunda atinge O SETUBALENSE no seu maior património: a isenção. A presidente eleita não explicou, mas presumimos que se referia às muitas vezes que André Martins foi protagonista e entrevistado no jornal ao longo dos quatro anos de mandato. É evidente que esteve muito presente nas páginas do jornal, mas isso decorre do cargo que desempenhou. O que dizer dos jornais nacionais que trazem todos os dias o primeiro-ministro? Ou das televisões que entrevistam o primeiro-ministro (ou qualquer ministro) sempre que podem? Alguém acredita que algum órgão de comunicação social recuse uma entrevista ao primeiro-ministro sempre que ele a quer dar? Uma entrevista com o principal responsável político tem sempre interesse jornalístico e se aquele não a der a um órgão dará a outro. É por isso que não são recusadas. Ora, no plano local, o presidente da câmara municipal é o primeiro responsável político, tem sempre possibilidade de dizer alguma coisa que seja novidade e a sua opinião tem especial interesse jornalístico.
Não foi André Martins que teve tratamento “especial” n’O SETUBALENSE, foi o presidente da Câmara Municipal de Setúbal, capital de distrito e órgão executivo da entidade protagonista e fonte mais relevante para um órgão de comunicação social local e regional como é O SETUBALENSE. Essa “atenção” (interesse jornalístico) é ao cargo e não à pessoa e vai, naturalmente, manter-se agora que a titular do cargo passará a ser Maria das Dores Meira.
Aproveitamos para desejar, à presidente eleita, o maior sucesso na administração do município, no interesse coletivo, e para lhe pedir que, na defesa da identidade local e da democracia, não se esqueça de que O SETUBALENSE tem 170 anos, é a mais antiga marca viva da cidade e uma bandeira que nos deve orgulhar a todos, enquanto jornal mais antigo de Portugal Continental.

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