Desde que me conheço, sempre fui do Centro Democrático e Social (CDS).
Em Janeiro de 1975 decorreu o I Congresso do CDS no Palácio de Cristal, no Porto. Com a presença de setecentos militantes e convidados, decorria no exterior uma autêntica batalha campal entre centenas de manifestantes e a polícia.
Das doze horas de impasse resultaram dezasseis feridos, alguns carros incendiados e a atenção dos meios de comunicação internacionais.
No “Verão Quente” de 1975, quando surgiu o PREC e a sua deriva revolucionária, eu iniciei a minha relação com o CDS; política e afectiva. Para mim, uma é indissociável da outra. A primeira sessão de esclarecimento do partido aqui em Setúbal, foi à porta fechada, rodeada de secretismo, no consultório médico do saudoso Henrique Soudo, na Av. Luísa Todi, que viria a ser mais tarde, o primeiro deputado eleito pelo CDS, no círculo eleitoral de Setúbal. De Lisboa, veio José Ribeiro e Castro, na altura um jovem de pouco mais de vinte anos.
Os ambientes eram tóxicos e impróprios para quem era de direita; eramos todos apelidados de fascistas, com ameaças à integridade física das pessoas.
Em 1976, foi inaugurada a sede do CDS em Setúbal, no coração da cidade, em plena Praça de Bocage, com a presença de Basílio Horta e também de fortes medidas de segurança.
O CDS era dirigido por gente de enorme craveira pessoal e política: Adriano Moreira, Freitas do Amaral, Amaro da Costa, Basílio Horta, Lucas Pires, Nuno Abecassis, Narana Cossoiró, Sá Machado, Morais Leitão, João Porto e tantos outros.
Ao longo dos sucessivos anos, o CDS foi sempre um partido estruturante da democracia portuguesa.
O CDS é formado por um conjunto de sensibilidades, tais como a democracia-cristã e o liberalismo, uma orientação da sociedade, rejeitando os excessos do capitalismo e as ideias socialistas. Em vez da luta de classes, procura defender-se a complementaridade social entre o capital e o trabalho.
A estratégia assenta no incentivo às empresas, à livre concorrência, ao intervencionismo supletivo do poder público, à coordenação do consumo e da produção, ao fomento das medidas de carácter social.
Parece-me indiscutível que foi graças à liberdade económica, que assistimos ao desenvolvimento dos países ocidentais e, por essa via, generalizou-se o acesso aos cuidados de saúde, à educação e à protecção social, cabendo ao Estado regular áreas vitais tais como a Justiça, a Saúde, a Educação, a Segurança Social, a Defesa, a Segurança, como exercício do poder soberano, onde o Estado deve ser forte.
Desde há cerca 20 anos a esta parte que o CDS se tem vindo a afastar daquilo que eu entendo serem as suas principais linhas orientadoras, tendo enveredado por um populismo nada saudável.
Desfiliei-me duas vezes e tornei a filiar-me outras tantas vezes, sobretudo por motivos afectivos.
O CDS não tem sido capaz de evoluir e adaptar-se à evolução da sociedade portuguesa, o que tem tido como consequência eleitoral, a sua progressiva irrelevância, acentuada pelos resultados destas eleições legislativas, onde não elegeu qualquer deputado.
A culpa é de todos nós; aqueles que têm dirigido o partido nos últimos anos e todos os restantes que se têm afastado inexoravelmente.
Se não sairmos da letargia e do pessimismo, este poderá ser o requiem do CDS.
Nos tempos que correm torna-se mesmo necessário, imperioso, também ser-se de direita, nas atitudes, nos valores, todos os dias, em todas as circunstâncias e em todos os lugares.
É necessária dimensão pessoal e social para se viver à direita, de princípios e de acção.
Direita democrática, pluralista, tolerante, inclusiva, humanista, europeia.