O texto é uma versão adaptada da minha intervenção na sessão comemorativa do 25 de Abril de 1974, realizada sob a responsabilidade da Assembleia Municipal.
Nas sessões deste órgão autárquico (ordinárias e extraordinárias) estão presentes o Executivo Municipal e os Presidentes da Juntas de Freguesia (que são membros da Assembleia Municipal por inerência).
Ambas são abertas ao público, embora nas sessões extraordinárias este não possa tomar a palavra para expor os seus problemas ou pôr questões.
Nesta sessão de 2022, em que o regime democrático instaurado pelo 25 de Abril de 1974 ultrapassou, em extensão temporal, o período que durou o regime de ditadura do Estado Novo, comemorar o 25 de Abril tem um significado especial, que merece, ainda mais do que noutro momento anterior qualquer, que não nos fiquemos por evocações retóricas ou laudatórias, por meros discursos de circunstância.
Por isso eu preferi reflectir sobre o que temos tido e o que devemos desejar ter a partir de três ideias-chave: Juventude; Comemoração dos 50 anos do 25 de Abril; Papel das Assembleias Municipais.
JUVENTUDE: Ano após ano, nestas sessões e noutras similares a propósito do 25 de Abril, mas não só, muitas vezes ouvimos referir os jovens como se fossem o motivo permanente das preocupações: não se envolvem nas questões da politica ou dos partidos, não se revêem nos símbolos e objectivos de Abril, diz-se.
Um recente inquérito da Universidade Católica para a Fundação Mário Soares e Maria Barroso apurou que o 25 de Abril é considerado muito importante para 75%o dos inquiridos e a camada mais jovem é a que lhe atribui maior importância. E revela ainda uma valorização da Revolução por, praticamente, todo o espectro político, excepto os eleitores do Chega.
Afinal, os jovens participam ou não cívica e politicamente? Talvez não se interessem pelo modo de funcionamento dos partidos e pelos jogos de poder interno (quem está a favor das lideranças é bem aceite e quem tem uma atitude crítico-reflexiva, não se limitando a cumprir os ditames vindos de cima, tantas vezes é posto de lado).
Mas a democracia precisa de todos. A democracia e a liberdade são valores fundamentais para uma cidadania plena e entusiasmante. É em torno da juventude que todos se devem congregar para realizar os sonhos ainda não realizados.
No inquérito que referi a análise cruzada por sexo, idade, e instrução permite afirmar que a importância do 25 de Abril é comum em todos os segmentos da população, sendo particularmente forte nas mulheres, nos mais jovens e nos mais instruídos.
Afinal, os jovens não estão tão alheados da política e do seu desenvolvimento. Porque se implicam, participam e votam menos do que o desejável? Faltará, com certeza, sentirem-se a fazer parte de um processo que os escuta e que, mais do que os ouvir e aceitar, os integra nas suas propostas.
É chegada a hora de se avançar com a Assembleia Municipal de Jovens em Palmela, envolvendo-os mas deixando ao seu escrutínio a melhor forma de organizarem a sua participação e trabalho.
Aproximando-se a data simbólica dos 50 anos do 25 de Abril, deixo o desafio à Camara Municipal para que crie um grupo de trabalho em que a Assembleia Municipal esteja presente, para pensar, idealizar e envolver a população nessa comemoração.
Não podemos, sistematicamente, dizer que nos preocupamos com a abstenção, com a indiferença dos munícipes e, depois, deixarmos que tudo fique na mesma, sem tomarmos a dianteira para estimular e ajudar à desejada participação popular numa data tão simbólica.
Estar com o 25 de Abril é fazer que ele aconteça, em Liberdade e para a Liberdade de todos, até dos que estão contra ele. Lembrá-lo só nos discursos de circunstância nesse dia é muito pouco: é quase nada.
