Que mal terão feito os pobres dos velhos?

Que mal terão feito os pobres dos velhos?

Que mal terão feito os pobres dos velhos?

13 Junho 2023, Terça-feira
Juvenal José Cordeiro Danado - Professor

Encontro um casal amigo, no café. Nos cumprimentos, a simpatia e o calor de sempre. Porém, noto-lhes uma tristeza nas falas e nas expressões. Após as gentilezas trocadas entre amigos que não se veem há uns tempos, fomos falando sobre as bagatelas do dia a dia. Até que a senhora se dispôs a revelar o que os afligia: o filho decidiu por eles e impôs-lhes as refeições levadas a casa por uma instituição contratada. À vez, desabafam mágoas: sentem-se capazes para tratar de si; gostam de sair, de conviver e de fazer compras; cozinhar o que lhes apeteça comer não é problema; ficaram reféns da hora em que as «meninas» batem à porta; a comida sem graça e repetitiva, os sete dias da semana, já enjoa.

O desgosto que notei nas palavras dos dois, magoou-me. Fiquei sem saber o que dizer – não devemos intrometer-nos em assuntos de família. Mas não aguentei, e disse aos meus amigos que não admitiria a um filho mandar assim na minha vida e na vida da mãe. Olharam um para o outro, calados e tristes. E eu mudei a conversa.

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A desconsideração pelos velhos tornou-se coisa corrente e notícia diária. Como se não bastassem os problemas, infelicidades e amarguras da idade, os anciãos veem-se cada vez mais confrontados com desrespeitos, afrontas, maus-tratos, desamor, desumanidade. Nas instituições (públicas ou privadas, o fado é o mesmo) e, ó céus!, no próprio lar e às mãos dos próprios filhos.

Fala-se muito de uma geração jovem sacrificada. Pois permitam-me lembrar o que foi a existência dos nossos velhos: sofreram as opressões da ditadura e a guerra colonial; a maioria não passou da instrução primária, começou a trabalhar muito jovem, sem condições nem garantias, sem o mês de férias, a ganhar magros ordenados que entregava em casa por inteiro; chegaram a adultos entre precisões e misérias; suportaram as dores de crescimento da democracia; fizeram sacrifícios e tiraram à boca e à vida para dar aos filhos e aos netos, e para educá-los; uma boa parte sobrevive de reformas exíguas, que em muitos casos partilha com os descendentes que precisam. E ao cabo e ao resto, depois de se terem dado à família e contribuído para a construção da sociedade moderna, livre, mais justa e mais solidária em que os mais jovens têm a felicidade de viver, os anciãos são maltratados. Que mal terão feito os pobres dos velhos, para não os deixarem viver os seus últimos dias em paz?

É revoltante que gente nova não considere os idosos como cidadãos de plenos direitos, vontade própria e dignidade a respeitar, que no gozo das suas faculdades mentais e físicas têm o direito de decidir das suas vidas. Se a desconsideração vem de filhos, ainda revolta mais, pois denota ingratidão e desamor para com os progenitores, além da falta do respeito que lhes devem.

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Há gente que parece não ter consciência de que a velhice, a seu tempo, também baterá à sua porta.                                                                                    13

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