A polícia é culpada.
A polícia é culpada dos desacatos da gente.
A polícia tem a culpa de ser chamada a intervir.
A polícia é culpada de haver quem se recusa a cumprir regras.
A polícia é culpada da desobediência à polícia.
A polícia é mesmo culpada por exercer funções da polícia.
A polícia é culpada de entrar em certos bairros
de sofrer emboscadas
e disparos e pedradas
de enfrentar rufiões
e reagir a agressões
de haver vândalos e delinquentes
e baldas que não querem saber de projetos de vida
e pândegos para quem zelar pela tranquilidade pública é racismo.
A polícia é culpada de haver racistas
e de haver quem descortine o racismo num só tom de pele.
A polícia é culpada, porque existem excluídos.
A polícia é ainda mais culpada (upa! upa!), porque há autoexcluídos.
A polícia é culpada da sarna do cão
da caspa dos filhos
da mosca da fruta
das banhas da Micas
dos traques da Lecas
da impotência do Pilas
das ganzas do Zeca
dos fretes dos árbitros
das tretas do VAR
dos dias cinzentos
do frio de janeiro.
A polícia é culpada das porras do mundo, é o que é.
A polícia é culpada de ser polícia
e de existir
e de haver quem lhe chame «a bosta de bófia».
Safa! A polícia é mesmo culpada de tudo!
Ora bolas prà polícia!
Vá de palavra de ordem: prendam os polícias! Prendam os polícias!
PS: Um esclarecimento, para matar dúvidas, à nascença: politicamente, estou, sempre estive e sempre estarei à esquerda. Logo, não vou à bola com racismos, sejam de que quilate forem (e incluindo os encapotados – eu bem os topo! –, que os há por aí, e às carradas, a invetivar, quem calha, de racista). Resulta, ainda, que não posso nutrir simpatias por polícias que não reúnem condições pra serem polícias. E como me falta paciência e estômago para o «politicamente correto», que é refúgio de ingénuos e impostores e oportunistas e cobardes…