Podemos querer-nos enganar e dizer de nós mesmos que talvez tenha sido sempre assim. Apenas, não o sabíamos. A realidade era outra, a internet não fora inventada, o mundo de cada um era mais escondido e a imprensa, não tinha tomado nas suas mãos grande parte da investigação e denuncia, e a corrupção na política, sempre existiu. E deve ter existido sim! Tenho para mim, olhando o homem e a sociedade sem hipocrisias, que nasceram juntas: política e corrupção. Ou melhor, terá a primeira, com o poder como pai, parido a segunda.
Mas ignorar que nos últimos anos a mesma se tornou de tal forma prolifera, que corremos o risco, se é que não o vivemos já, da sua vulgarização a desvalorizar, minimizando-a a tal prática comum e normal, que nos ouvimos a escutar, ou a dizer, “…afinal…são todos iguais!”, o que não sendo verdade, é, portanto, muito injusto para aqueles que o não são.
E foi sem querer, que me surpreendi a mim mesmo a pensá-lo. Enquanto me perguntava se alguma Câmara Municipal no país haveria, sem que tal vírus a atingisse. E ao pensá-lo, as minhas desculpas por tal, pois haverá certamente e pessoalmente acredito, na verdade e honestidade política da maioria.
Mas que já são muitos, são! É uma triste verdade que procurei entender e a meu ver, alem de ser obviamente cultural e assente na nossa conhecida tolerância e velhas máximas. Interpretadas a jeito na defesa do favor, interesse pessoal ou acordo de partes, á parte. Confundindo assim, a paga de serviço feito, com envelope suborno, quando não, voucher de casa, carro e conta offshore, mas chamado de “pequena” compensação. Ou, esperteza e astucia, com desonestidade e falta de escrúpulos.
Que cedo nasce o comprometimento e caras são as campanhas, sempre o soubemos e é nos empresários que está o dinheiro. O que não significa má conduta, falta de ética, de modo algum. Sendo apenas política e políticos e permitindo-nos a democracia, sobre ela e eles fazer escolha. Mas ver tal vírus, de infetar um aqui e outro ali, transformar-se em cancro autoimune, que se alimenta a sim mesmo nas leis convenientes que aprova, tem a meu ver outros dois motivos: a profissionalização da política e a perda de ideais.
Pois se noutros tempos tínhamos nos nossos políticos, aqueles cidadãos mais prominentes na sociedade, de referência na sua profissão e obra feita e cujo amor á sua terra, cidade ou país, os levava a: “dedicar á causa publica”. Por ela recebendo, mas sem dela necessitar. Temos hoje, um universo político salpicado de engenheiros sem projetos, advogados sem clientes ou economistas sem empresa. Formados na juventude do seu partido, ou de outro e dependentes de cargos a prazo de eleições, de onde transitam para outros, de futuro incerto e conscientes de que os candidatos, são mais do que as cadeiras. O que faz deles alvos fáceis no apelo corrupto de garantir o futuro, longe da política, mas tardio para a profissão que nunca, ou pouco exerceram e não garante o nível de vida a que se habituaram.
Na perda de ideais, muito haveria a dizer. Não bastasse a realidade da guerra a leste da europa, para nos mostrar aqueles que um dia nascidos no extremo de um lado, de liberdade e democracia na voz, mas outras palavras engasgadas na garganta, alinhados com os do extremo mais oposto, unidos ambos no ideal financeiro, visivelmente comprometidos e único, em que parecem acreditar.
Ou, estou apenas enganado, confirmando-se a expressão de que no fundo, os extremos se tocam e apenas, a pantomina política não o deixa perceber.