A pobreza menstrual caracteriza-se pela dificuldade em aceder a produtos de higiene menstrual adequados, mas vai muito para além disso. Deixa a descoberto um problema global que vai desde a falta de acesso a água, saneamento básico e uma evidente desigualdade social, sendo as mulheres em situação de sem-abrigo ou em situações de pobreza as mais vulneráveis.
Milhões de mulheres em todo o mundo confrontam-se com a dificuldade de acesso a produtos menstruais tendo, segundo a Plan Internacional, a situação piorado com a pandemia.
Em 2014, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu que o direito das mulheres à higiene menstrual é uma questão de saúde pública e de direitos humanos. E o que deveria ser um direito é, muitas vezes, um luxo. Esta entidade estima que uma em cada dez meninas faltem à escola quando estão menstruadas. A falta de condições sanitárias, a ausência de produtos de higiene, o medo, a vergonha de se sujarem e o desconforto são alguns dos motivos que afastam as meninas da frequência escolar e as mulheres do trabalho. Estas circunstâncias fazem com que estas mulheres sejam cultural e economicamente excluídas, discriminadas e desfavorecidas.
Em Portugal, segundo o estudo “Pobreza em Portugal – Trajetos e Quotidianos”, quase um quinto dos portugueses estão em situação de pobreza e os últimos indicadores, de 2018, são de 17,2%, o equivalente a 1,7 milhões de pessoas. Apesar do estudo não incidir sobre o período de pandemia, tudo indica que a situação tenha piorado e, portanto, os números serão provavelmente superiores neste momento. Estes dados demonstram a vulnerabilidade a que certas famílias e mais especificamente meninas e mulheres estão expostas.
Especificamente sobre os produtos de higiene íntima, foi feito um estudo “Concepções de Mulheres Portuguesas sobre a Menstruação, Higiene Menstrual e Constrangimentos no Espaço Público”, em Outubro 2020, com uma amostra de 445 mulheres, onde 16,6% das participantes assume ter dificuldades económicas na aquisição dos produtos de higiene.
Daí ter submetido uma iniciativa que procura assegurar a igualdade de oportunidades para todas as pessoas, especialmente às mulheres que no contexto laboral já enfrentam tantos obstáculos. A circunstância da pessoa estar menstruada não deve impedir a sua participação social, o que inclui, por exemplo, a participação na vida profissional, oportunidades educacionais, actividades de lazer ou desporto.
Devem, por isso, ser tomadas medidas de combate ao estigma bem como à pobreza menstrual, por exemplo, através da disponibilização de uma variedade de produtos menstruais, para que cada mulher possa escolher aquele com que se sente mais confortável, devendo-se incluir o copo menstrual, que apresenta também benefícios ambientais.
É fundamental assegurar que todas as mulheres e meninas tenham acesso a produtos menstruais e a condições de higiene adequadas. Isto não é um luxo, é uma necessidade básica, mas também uma questão de dignidade.