PENSAR SETÚBAL: Vitória, 3 – Fiorentina, 0…e uma lição de vida

PENSAR SETÚBAL: Vitória, 3 – Fiorentina, 0…e uma lição de vida

PENSAR SETÚBAL: Vitória, 3 – Fiorentina, 0…e uma lição de vida

, Professor
21 Dezembro 2020, Segunda-feira
Giovanni Licciardello - Professor

Em período natalício, recordei-me de uma estória que gostaria de partilhar com os vitorianos, nestas alturas conturbadas.

Em 1968, no sorteio realizado para a Taça UEFA, o Vitória Futebol Clube coube-lhe defrontar a Fiorentina, de Itália.

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A Direcção do Vitória, presidida por Fernando Pedrosa, convidou meu Pai para o jantar de confraternização entre as duas comitivas, realizado no restaurante da pousada do Castelo de S. Filipe.

Eu também fui. Tinha oito anos. Era o único garoto presente no jantar.

Fiquei na mesa sentado com o saudoso Francisco Nascimento, um dos mais prestigiados e carismáticos dirigentes vitorianos. Foi dos poucos adultos a interagir e a dar atenção a um miúdo.

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De repente, eis que chega a RTP, o único canal televisivo existente nessa altura. O jornalista queria entrevistar o treinador italiano.

Como tudo isto se passou perto da nossa mesa, meu Pai levantou-se e prontificou-se para facilitar a compreensão mútua.

Quando questionado sobre a eliminatória, o treinador italiano não esteve com meias medidas e exclamou: “Li mangeremo vivi !!!”, o que se traduz automaticamente por “iremos comê-los vivos !!!”.

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Meu Pai teve um momento de surpresa e hesitação, mas lá avançou resoluto, traduzindo que o treinador estava optimista e que pensava superar a eliminatória com facilidade.

Com oito anos, eu tinha um entendimento literal daquilo que tinha sido dito. Logo, o treinador tinha dito que iria comer-nos vivos e não que estava optimista. Todavia, como me ensinaram a não me imiscuir em conversas de adultos, permaneci calado.

Mas a ferver; como vitoriano, estava indignado; com a tradução do Pai, entendia estar incorrecta.

Quando o jornalista se afastou, meu Pai aproximou-se do treinador italiano e alertou-o para que tivesse muito cuidado, porque o Vitória era “una gran bella e molto forte squadra” e para estar “molto attento al pericolo”.

O treinador italiano não ligou nenhuma ao alerta do Pai.

Quando o jantar terminou e fomos os dois para o carro, eu questionei-o imediatamente sobre o conteúdo da tradução.

Meu Pai deu-me uma lição de pedagogia de vida que não mais haveria de esquecer.

Primeiro, afirmou que teria sido deselegante para com os dirigentes do Vitória, traduzir aquela afirmação literalmente. Podemos dizer o mesmo, de uma forma mais polida e delicada.

Segundo, e de acordo com meu Pai, a Fiorentina tinha “acabado de perder a eliminatória”. “O treinador não fez o trabalho de casa, não faz ideia onde se está a meter e quem vai defrontar. La mancanza di umiltà e l’arroganza sono cose terribili”.

Como adepto, logo fiquei mais animado, com a expectativa da eliminatória.

E assim, desde o primeiro ao derradeiro minuto, o Vitória encostou a Fiorentina “às cordas”, não lhes dando tempo para respirarem. Os jogadores italianos estavam completamente desorientados.

O treinador italiano, o tal dos “li mangeremo vivi”, gritava, vociferava, incentivava. Debalde.

O treinador era Fernando Vaz. Alinharam pelo Vitória, Vital, Alfredo, Herculano, Carlos Cardoso, Carriço, José Maria, Vagner, Figueiredo, Guerreiro, Arcanjo, Jacinto João e Petita.

Resultado final: 3-0. Marcaram José Maria (o avô da minha aluna Beatriz), dois golos e Arcanjo, um golo. Outros tantos ficaram por marcar.

Quando o desafio terminou, meu Pai olhou para mim e disse “Hai visto? Avevo ragione, io”.

Tinha razão, sim senhor.

No desafio em Florença, o Vitória perdeu por 1-2, passando a eliminatória.

Hoje estamos aqui a evocar um dos pontos mais altos da história do Vitória Futebol Clube.

E uma lição de vida.

Boas Festas para todos.

VIVA O VITÓRIA

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