Esta é uma história de Natal diferente. Uma história que vem das profundezas do Tempo, directamente ao encontro da nossa Humanidade.
Estávamos em 1914, em plena 1ª Guerra Mundial, durante a semana que antecedeu o Natal. Um soldado inglês saiu das trincheiras e avançou desarmado pela “terra de ninguém”. Um soldado alemão imitou-o no gesto.
Seguiram-se outros, de ambas as partes.
A partir daí, soldados alemães e britânicos confraternizaram de forma fraterna e espontânea.
Na véspera de Natal e no Dia de Natal, muitos soldados de ambos os lados, bem como unidades francesas, aventuraram-se na “terra de ninguém“, onde se encontraram, oferecendo-se reciprocamente alimentos e presentes, tendo entoado cantos natalícios ao longo de diversos encontros.
As tropas de ambos os lados chegaram a disputar um jogo de futebol.
Os alemães colocaram velas nas trincheiras e decoraram árvores de Natal, continuando em seguida a celebração ao cantar canções natalícias.
Por seu turno, os britânicos responderam cantando as suas próprias canções. Houve casos em que alemães e ingleses começaram, nas suas próprias trincheiras, a cantar unidos os mesmos cânticos natalícios, ainda que nas suas próprias línguas e versões.
Como escreveu o fuzileiro Graham Williams, da 1ª Brigada de Fuzileiros de Londres: “Começamos a cantar O Come, All Ye Faithful e imediatamente os alemães se uniram cantando o mesmo hino, utilizando a versão em Latim, Adeste Fideles.
As tréguas de Natal foram particularmente notáveis devido ao facto de englobar um número significativo de homens. Havia dezenas de soldados que se reuniam abertamente à luz do dia.
Na manhã de Natal, uma Missa bilíngue foi rezada por um padre escocês e um seminarista alemão, tendo assim selado este momento extraordinariamente simbólico.
“Um espectáculo extraordinário”, assim se referiu deslumbrado, o tenente Arthur Burns, do 6º Regimento dos Highlanders. “Os alemães alinhados de um lado, os britânicos de outro, os oficiais à frente, todos de cabeça descoberta, em silêncio e em oração”.
A trégua também permitiu que os soldados mortos fossem trazidos de volta para as suas linhas, para poderem ser enterrados, tendo sido realizados vários funerais em conjunto.
Nos meses seguintes, houve algumas tentativas esporádicas de tréguas: uma unidade alemã tentou sair de suas trincheira, no Domingo de Páscoa de 1915, mas foram dissuadidos pelos britânicos à sua frente; no final desse mesmo ano, em Novembro, uma unidade da Saxónia confraternizou brevemente com um batalhão de Liverpool.
A partir daí, houve ordens explícitas por parte dos comandantes aliados, para evitar qualquer repetição da trégua do Natal anterior.
Esta trégua de Natal foi considerada como um momento simbólico de Paz e de Humanidade, no meio de todas as atrocidades decorrentes da guerra.
A Guerra significa a barbárie, o lado negro e obscuro da natureza humana que irrompe descontroladamente, obliterando tudo e todos, como um rolo compressor.
Em nome de supostos princípios e valores dos países beligerantes, cometem-se as maiores atrocidades, perseguindo interesses obscuros, sórdidos e mesquinhos.
Tal como na história intitulada “Um Conto de Natal” de Charles Dickens, a todos nós deve ser dada a possibilidade tangível de redenção e de fazer apelo aos sentimentos mais nobres da natureza humana: o Amor, a Amizade, a Solidariedade e a Fraternidade, comum a todos nós.
Espero que esta história de Natal tenha sido do vosso agrado.
BOAS FESTAS PARA TODOS VÓS.