Num destes dias, Fernando Pedrosa teve a amabilidade de me convidar para um almoço, convite esse que aceitei de muito bom grado, tendo em conta a dimensão, o prestígio e a inspiração que desperta em todos os vitorianos.
Fernando Pedrosa dispensa apresentações. É o decano dos presidentes do Vitória Futebol Clube, constituindo uma figura incontornável no universo e afectos vitorianos.
Em 1958, Fernando Pedrosa ingressou pela primeira vez na direcção do Vitória, na altura presidida por Mário Ledo, na qualidade de vogal.
Em 1962, na direcção de Virgílio Fernandes, chegou a vice-presidente, na mesma altura em que foi inaugurado o Estádio do Bonfim.
A partir de 1963, passou a ser o presidente da direcção, mantendo-se no cargo ininterruptamente até 1970. Foi também presidente, de 1971 a 1973.
Durante esta sua vigência, o Vitória Futebol Clube atingiu e manteve o seu período dourado, com um segundo lugar na 1ªLiga, quatro presenças consecutivas em finais da Taça de Portugal, duas Taças ganhas, em 1965 e 1967, Taça Teresa Herrera, Mini-Copa do Mundo, Troféus Ibéricos, bem como onze participações consecutivas nas Taça UEFA e Taça das Taças, eliminando equipas de nomeada tais como Leeds United, Anderlecht, Liverpool, Inter de Milão, Spartak de Moscovo, Rapid de Bucareste, Hadjuk Split, Fiorentina.
Foi com Fernando Pedrosa que se fizeram os melhores negócios com a venda de Jaime Graça para o Benfica, com a cedência definitiva de Guerreiro, Arcanjo e Pedras, bem como a venda de Vítor Baptista, e com a cedência definitiva de José Torres, Matine e Praia, para além de dois importantes encaixes financeiros.
Tirando o meu querido amigo Guerreiro, todos os citados anteriormente já faleceram. Agora foi a vez de Matine. Uma tristeza.
Durante o animado repasto, um assunto sempre recorrente a que ambos regressámos invariavelmente é o nosso Vitória, fonte de afecto, de inspiração, mas também de preocupação, comuns a ambos, pelos motivos sobejamente conhecidos.
Fernando Pedrosa manifestou a sua profunda preocupação pelo actual estado em que se encontra o Vitória Futebol Clube, salientando tal que era, na sua opinião, espectável.
Um aspecto que considero extremamente importante e grave e que só o menciono com a sua autorização explícita, diz respeito ao facto de, ao longo de alguns anos a esta parte, a Liga contactar particularmente Fernando Pedrosa, para que este alertasse os dirigentes do Vitória, relativamente às irregularidades processuais a que as inscrições na 1ª Liga estavam sempre sujeitas. Fernando Pedrosa avisava, de imediato, os responsáveis vitorianos em funções.
Dito de outra forma. O Vitória apresentou regularmente falhas na entrega de documentação, a que os responsáveis da Liga faziam vista grossa. Desta vez, não houve contemplações.
Fernando Pedrosa entende que a gestão do Vitória deve ser profissionalizada e que todos devem servir o Vitória e não servir-se do Vitória. O profissionalismo não exclui a dedicação e o empenho. Pelo contrário, reforça-os.
Manifestou explicitamente a sua satisfação para com a Câmara Municipal de Setúbal, na pessoa da senhora presidente, Maria das Dores Meira, relativamente à aquisição do direito de superfície dos terrenos do Estádio do Bonfim, sendo da opinião que o Vitória Futebol Clube tem um débito de apreço, gratidão e reconhecimento para com a autarquia.
Fernando Pedrosa é um conversador exímio, relatando factos, ocorrências, histórias e pessoas envolvidas, evidenciando uma memória assombrosa e uma vivacidade narrativa que nos prendem a atenção, cativam, inspiram, entusiasmam e que ocorreram ao longo destes seus quase 90 anos de idade.
Caro amigo. É sempre um enorme privilégio poder usufruir da sua inteligência viva e do seu enorme vitorianismo.
Já temos outros almoços agendados.