Pensar Setúbal: Os sismos em Portugal

Pensar Setúbal: Os sismos em Portugal

Pensar Setúbal: Os sismos em Portugal

, Professor
2 Setembro 2024, Segunda-feira
Professor

No dia 26 de Agosto, às 05h47 da manhã ocorreu um sismo de magnitude 5.3 na escala de Richter, localizado a cerca sessenta quilómetros a Oeste de Sines, seguido de nove réplicas de pequena magnitude, tendo sido o 10.º maior desde o século XVI, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Há cerca de 160 anos, em 1858, deu-se um terramoto particularmente importante, conhecido como o sismo de Setúbal e que teve uma magnitude de 7.1 na mesma escala.
A 30 quilómetros do epicentro, os efeitos do sismo foram acentuados, com destruição completa de algumas áreas da cidade.
O bairro do Troino ficou praticamente destruído, com derrocadas em praticamente todas as ruas. No largo da Fonte Nova, muitos edifícios ficaram danificados, bem como no largo do Sapal, hoje Praça de Bocage.
Este e outros sismos, bem como fenómenos associados ao vulcanismo, recorda-nos que a Terra é uma entidade geologicamente dinâmica.
Este sismo de Agosto de 2024 não provocou felizmente danos humanos e materiais.
Aqui para as bandas de Setúbal, algumas pessoas acordaram, referindo que não se ouviam cães a ladrar.
Este foi dos sismos mais intenso ocorrido nos últimos anos, em Portugal Continental.
Há 55 anos, precisamente no dia 1 de Março de 1969, de madrugada, deu–se um terremoto em Portugal, que atingiu o grau de 7,5 na escala de Richter, com epicentro no Banco de Gorringe, uma falha situada no Oceano Atlântico, a sudoeste de Sagres.
Eu era miúdo e curiosamente acordei pouco tempo antes, pelo que a única percepção que tive foi um ruído de baixa frequência, profundo, intenso, metálico, que identifiquei como se fosse uma camioneta a passar, com uma corrente metálica a fazer barulho. Só quando meu Pai gritou que era um terremoto, e para irmos todos para a rua, é que me apercebi do que era.
Fomos, de facto, todos para a rua, em pijama e roupão para a Praça do Bocage, que se encontrava repleta de gente, às 4/5 horas da manhã e onde o balaústre (uma estrutura decorativa em pedra) da Igreja de S. Julião caiu mesmo em cima do carro do padre (um Volkswagen carocha branco) que se encontrava estacionado em frente da entrada principal da Igreja.
Passado algum tempo voltámos para casa, e quando nos encontrávamos na cama, deu-se uma réplica, pelo que voltámos definitivamente para a rua, levando o automóvel para a avenida Luísa Todi.
Relatos da altura revelaram que a terra tremeu com intensidade durante um minuto levando a que alguns relógios tivessem parado no momento exacto da produção do fenómeno.
Feridos graves não houve, assinalando-se apenas meia dúzia de pessoas que tiveram necessidade de tratamento no Hospital de S. Bernardo, devido a depressões nervosas causadas pelo susto.
A nível de estragos materiais, a situação foi um pouco mais complicada, em virtude de muitos edifícios antigos apresentarem rachadelas e telhados que caíram.
Portugal, no contexto da Tectónica de Placas, situa-se na Placa Euro-Asiática, limitada a sul pela falha Açores-Gibraltar que corresponde à fronteira entre a referida placa e a Placa Africana e a Oeste pela falha dorsal do Oceano Atlântico.
O movimento das placas caracteriza-se pelo deslocamento para Norte da Placa Africana e pelo movimento divergente de direcção E-O na dorsal atlântica. Na zona mais ocidental da fractura Açores-Gibraltar encontra-se a junção tripla dos Açores e a Sudeste da ilha de S. Miguel a fractura toma uma direcção E-O, com movimento de deslizamento, conhecida por Falha da Glória.
Um pouco mais para Sul, na zona do Banco de Gorringe, o movimento de deslizamento passa a cavalgamento da Placa Euroasiática sobre a Placa Africana.
Devido a esta dinâmica de tectónica de placas, o território português constitui uma zona de sismicidade importante, com particular relevância para os Açores.
Um sismo é algo que nos desperta um medo visceral e irracional pela sua intensidade, e muitas vezes pela sua violência.
Sentimo-nos impotentes, frágeis e desprotegidos perante a força da Natureza, na sua vertente mais destrutiva.
Mas enquanto forem desta intensidade e um pouco menos, como o de Agosto passado, com as suas réplicas, pode até ser um bom sinal, em virtude de poder libertar tensões acumuladas nas placas litosféricas.
Contrariamente ao sismo de 1969, desta vez não dei por nada. Dormia e continuei a dormir profundamente.

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