PENSAR SETÚBAL: “Os Homens Que Salvavam Livros”

PENSAR SETÚBAL: “Os Homens Que Salvavam Livros”

PENSAR SETÚBAL: “Os Homens Que Salvavam Livros”

, Professor
29 Junho 2020, Segunda-feira
Giovanni Licciardello - Professor

“Todos aqueles que começam por queimar livros, mais tarde ou mais cedo, acabarão por queimar pessoas.”

Heinrich Heine, judeu alemão

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Em qualquer circunstância das nossas vidas, a leitura assume sempre uma importância relevante, como factor de desenvolvimento e enriquecimento pessoal. Não existe computador, nem toda a parafernália tecnológica digital de ponta que consiga substituir o gosto do manuseio, do cheiro e do conteúdo das folhas de papel que materializam um livro.

Um dos livros li durante o período de confinamento forçado, intitula-se “Os Homens Que Salvavam Livros” de David E. Fishman, que retrata a verdadeira e quase inacreditável história da “Brigada do Papel”, um grupo de poetas e intelectuais judeus residentes no gueto de Vilna (actual Vilnius, capital da Lituânia) – conhecida também como a «Jerusalém da Lituânia» – que arriscaram a vida para resgatarem milhares de livros e manuscritos apreendidos, primeiro pelos nazis e depois pelos comunistas.

Quando a Alemanha nazi ocupava um território, utilizava sempre a mesma metodologia: primeiro, obrigavam os judeus a utilizarem a estrela de David no peito ou no braço, confinando-nos em guetos; de seguida, levavam-nos para campos de concentração onde eram sujeitos a torturas e trabalhos forçados; por fim executavam-nos. Seis milhões de judeus foram barbaramente assassinados durante esse período.

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Aquando da invasão de Vilma pelos alemães, em 1941, e tal como faziam com as pessoas, relativamente aos livros, seleccionavam-nos em dois grupos. Aqueles que consideravam valiosos, eram enviados para a Alemanha; os restantes, eram maioritariamente queimados ou transformados em pasta de papel.

Durante cerca três anos, esse grupo de judeus resgatou e escondeu livros e manuscritos da cultura judaica, num relato de heroísmo e resistência, amizade e amor, de verdadeira devoção à Literatura e à Arte, mesmo sob o risco de morte.

As condições de vida impostas pelos nazis são descritas de uma forma impressionante. Era a barbárie pura e dura.

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Em 1944, quando o exército soviético expulsou os alemães e ocupou Vilnius, os judeus sobreviventes pensavam que iria tudo melhorar.

Todavia, tal como os nazis alemães, os comunistas soviéticos evidenciavam o mesmo anti-semitismo, assassinando judeus, e menorizando a sua cultura.

Quer Estaline, quer Hitler não gostavam de judeus e estes sofreram as consequências na pele.

A Sinagoga de Vilnius foi destruída pelos soviéticos em 1954.

Quanto aos livros e manuscritos, uns foram para bibliotecas soviéticas; outros permaneceram em caves, abandonados à sua sorte. Contudo, a grande maioria encontrava-se na Alemanha.

Como sempre acontece na vida, muitos capítulos assumem contornos inesperados, que compete a caro leitor averiguar, caso tenha ficado interessado quer pela temática, quer pelo livro em si.

Com todas estas histórias, foi redigido este livro que se baseou em documentos judaicos, alemães, americanos e soviéticos, incluindo livros, diários, cartas, memórias e entrevistas do autor a vários intervenientes nessa arriscada operação.

“Os Homens Que Salvavam Livros” foi o vencedor do National Jewish Book Award 2017 – Categoria Holocausto.

Este é um excelente livro que recomendo vivamente e que constitui uma lição inspiradora de vida de um conjunto de judeus que, fintando a morte durante anos, contribuíram decisivamente para a preservação da sua cultura.

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