Pensar Setúbal: Os 50 anos do 25 de Abril (Parte XXIII):“Onde estava no 25 de Abril de 1974?”

Pensar Setúbal: Os 50 anos do 25 de Abril (Parte XXIII):“Onde estava no 25 de Abril de 1974?”

Pensar Setúbal: Os 50 anos do 25 de Abril (Parte XXIII):“Onde estava no 25 de Abril de 1974?”

, Professor
23 Setembro 2024, Segunda-feira
Professor

Esta famosa frase era proferida pelo jornalista António Baptista-Bastos, na SIC, num programa de sua autoria “Conversas Secretas com Baptista-Bastos”, nos anos 90, tendo entrevistado vários convidados a quem perguntava invariavelmente “onde estava no 25 de Abril?”.
Hoje irei, portanto, procurar responder a essa pergunta.
Havia uma anedota que se contava entre Março e Abril de 1974, e que era a seguinte: “Qual era a cidade mais virgem do mundo? Era Lisboa, porque não tinha deixado entrar os tipos das Caldas”.
Eu, que na altura tinha 13 anos, embora já entendesse o sentido da anedota, lembro-me perfeitamente de ter perguntado: “mas quais tipos das Caldas?”.
Foi a tentativa falhada, a 16 de Março de 1974, do regimento das Caldas da Rainha de entrar em Lisboa, que o regime do Estado Novo minimizou, embora fosse mencionada ao de leve por Marcello Caetano, no seu programa de televisão habitual “conversas em família”, e cuja tentativa foi precursora do 25 de Abril.
O 25 de Abril de 1974 foi um dia nublado, sem sol, embora não tivesse chovido durante todo o dia.
Lá em casa soubemos da revolução, de manhã bem cedo, quando o gerente de um conhecido banco, telefonou à minha mãe para lhe pedir que não levantasse o dinheiro que tínhamos lá depositado. Só então tivemos a noção que algo se estava a passar.
Meu pai, Comandante da Marinha Italiana, encontrava-se, nessa altura em navegação, no Golfo Pérsico.
Fui para o Liceu (andava no 4ºano, actual 8ºano), e verifiquei que metade da turma não tinha ido, tendo o governo posteriormente considerado as faltas justificadas.
Nas aulas de Geografia e de Matemática, lembro-me de termos falado da questão colonial, de António de Spínola e do seu livro “Portugal e o futuro”, de Mário Soares, Costa Gomes, Humberto Delgado, tudo nomes desconhecidos para mim, na altura.
Depois fui para casa e pusemo-nos a ouvir o rádio (na altura a televisão só emitia ao fim da tarde, só com um canal, a RTP).
O MFA afirmava que as pessoas se deviam manter em casa a fim de evitar derramamento de sangue, e que um dos grandes objectivos da revolução era tornar Portugal uma democracia, acabar com a guerra em África e tornar as colónias independentes.
À noite, vimos tudo pela televisão: os militares em Lisboa, a coragem e determinação do Capitão Salgueiro Maia, a alegria do povo que, entretanto, tinha saído à rua vitoriando a revolução, o comunicado televisivo da Junta de Salvação Nacional, lido por António de Spínola, ladeado por Costa Gomes, Galvão de Melo, Pinheiro de Azevedo, e outros.
Passados todos estes anos, um dos aspectos que me impressionou, e impressiona ainda, foi a facilidade e a rapidez com que o regime do Estado Novo caiu. Como se estivesse a cair de podre.
E estava, de facto
As forças armadas derrubaram um regime totalitário para terminar a Guerra Colonial e restabelecer a democracia; e esta foi a verdadeira revolução, politicamente falando.
Seguiu-se logo outra “revolução popular”, uma adesão entusiasmada, uma explosão de júbilo colectivo, una misto de embriaguez de liberdade relativamente um povo que tinha estado oprimido durante quarenta e oito anos (o Estado Novo, como regime de matriz fascista, detém o recorde de longevidade da Europa).
A euforia da revolução propagou-se rapidamente, contagiando, a partir de Lisboa, todo o país. A opressão não era somente política; era social, cultural, antropológica, reduzindo os portugueses a um povo triste e conformista, deformando a natureza de uma gente alegre e expansiva.
No dia 25 de Abril, aquela alegria negada durante décadas explodia numa festa colectiva.
Era também e muito a festa do fim de uma longa e penosa Guerra Colonial que tinha ensanguentado a nossa juventude, dizimando uma geração de portugueses nascidos nos anos quarenta.
Lenta, mas progressivamente, constataram que não eram mais que carne para canhão, ganhando consciência, seguida de revolta, sobretudo nos jovens militares que eram sucessivamente enviados para as colónias.
Paradoxalmente, foi a África colonial que contribuiu, de forma decisiva, para libertar o país que a colonizava.
E o caro leitor que está a ler esta crónica, permita-me a pergunta; se já era nascido, onde estava quando se deu o 25 de Abril de 1974?

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