À medida que vamos avançando na idade e vamos cada vez mais tendo a noção de nós próprios e daquilo que nos rodeia, temos a conviccção que o 25 de Abril de 1974 é como o vinho de óptima qualidade; fica cada vez melhor com a idade.
Quanto a mim, é precisamente a percepção que tenho quando procuro analisar tudo o que aconteceu e continua a acontecer, ao longo destes cinquenta anos.
Fizemos imensos progressos; a Liberdade que tenho em reflectir, analisar, sintetizar e escrever, para que os leitores possam ler, concordar ou discordar, é algo de fundamental e estruturante numa sociedade democrática.
A existência de uma imprensa livre, independente e responsável, constitui um dos alicerces da democracia; permite gerar cidadãos que tenham sempre consigo a semente do espírito crítico, um dos motores do desenvolvimento das sociedades, a todos os níveis.
No tempo do Estado Novo, quando ia para a escola, para o Liceu (actual Escola Secundária de Bocage), tinha colegas que vinham de locais tais como Palmela, Azeitão, Pinhal Novo, Sesimbra, Lagameças, Lau, Poceirão, Águas de Moura, Pegões e que se tinham de levantar de madrugada, para chegaram às 8.30 da manhã.
No tempo do Estado Novo, vivia-se muito em barracas sem saneamento básico, nem qualquer tipo de salubridade. Assim se vivia em Setúbal e em muitas cidades. Eram os tempos das dificuldades, da miséria de não ter casa digna, da pobreza de quase não ter o que comer, da desgraça de ser condenado a viver excluído nas zonas limítrofes da cidade, da sociedade e da vida.
Em 1970, mais de onze mil pessoas viviam nos bairros da lata, os chamados “bairros da folha” de Setúbal ou “bairros dos índios”.
Não se vivia; sobrevivia-se. Era comum ver pessoas na rua a circularem com os pés descalços.
Não, antigamente não era melhor. Nem bom.
A Revolução dos Cravos decorreu num momento crucial na história de Portugal, assinalando um período de democracia e liberdade.
O 25 de Abril é, portanto, um dia de memória e de reflexão, mas também a celebração pelos enormes progressos conseguidos nos últimos cinquenta anos.
Não obstante os desafios e as dificuldades encontradas nos últimos anos, Portugal conquista e mantém-se uma democracia consolidada com uma economia estável e uma sociedade civil com algum dinamismo.
A herança do 25 de Abril continua a inspirar sucessivas gerações, recordando-nos em permanência a importância da Liberdade, da Democracia e dos Direitos Humanos.
Se por um lado o Portugal de hoje é claramente um país melhor relativamente ao passado, por outro lado persistem ainda diversos constrangimentos tais como baixa produtividade, precaridade no trabalho, o deterioramento dos serviços públicos e a corrupção.
Nesse sentido, Portugal posiciona-se entre os países europeus com menor produtividade per capita, o que constitui um forte condicionamento, desacelerando a economia e a competitividade; por outro lado, uma ampla fatia dos trabalhadores, sobretudo os jovens, é afectado por contratos precários e baixos salários, condicionando a actividade económica e a mobilidade social.
Muitos jovens são obrigados a sair do país.
Os serviços públicos, tais como na Saúde e na Educação, denota-se uma carência acentuada de recursos humanos, acarretando um impacto negativo na qualidade de vida dos cidadãos
Por último, temos a corrupção. Nada pior do que impunidade e prescrições, para minar a dignidade da nossa dimensão democrática; arguidos a usarem todos os truques processuais que conhecem para se safarem.
Esse é um caminho ainda muito longo a percorrer. Somente com uma revolução nas mentalidades é que lá chegaremos.
Não obstante os desafios, Portugal possui as potencialidades de ir ao seu encontro e de construir um futuro melhor.
Para isso, torna-se necessário um empenhamento concreto investir na inovação e na formação, favorecendo o crescimento de sectores basilares, aumentar a produtividade e a qualificação, promovendo um trabalho digno, com salários dignos, diminuindo a precariedade, bem como o reforço dos serviços públicos.
Esta foi a última crónica que escrevi sobre o 25 de Abril, neste contexto, de um total de trinta. Nunca deixarei de escrever ou falar sobre esta data tão simbolicamente importante.
Recordo Fernando Salgueiro Maia com muita saudade.
Gosto muito do 25 de Abril.
Para mim, como para tantos de nós, é uma data mágica, assumindo um significado especial.
VIVA O 25 DE ABRIL.