“Também fui militar. Não lutei, mas cumpri o meu dever. E estes senhores todos que estão aqui é que são os heróis. E os heróis devem ser honrados”
Carlos Rosa, 2018
Hoje vamos falar de um Homem que tem uma história inspiradora e que hoje vou contar.
E esse Homem chama-se Carlos Rosa, um cidadão português com 55 anos, que vive em Angola desde 2009 e trabalha numa construtora.
Desde 2012, que Carlos Rosa percorre os cemitérios angolanos, recebendo informações de familiares de antigos militares que combateram na guerra em Angola, que morreram, que ficaram sepultados em território angolano e cujos restos mortais nunca chegaram a ser recuperados pelas famílias, em Portugal.
Através das redes sociais, recebe todo um conjunto de informações de familiares e de amigos dos muitos militares portugueses mortos em combate. De seguida, no terreno, trata de confirmar a localização das campas, antes de avançar com o pedido de documentação nas autoridades angolanas e os contactos com as funerárias locais, para assegurar o difícil processo de trasladação dos corpos.
O primeiro caso, que, a partir de Luanda, Carlos Rosa ajudou a resolver, foi concluído em Dezembro de 2017, com a chegada a Portugal, ao concelho de Tondela, dos restos mortais do soldado paraquedista António da Conceição Lopes da Silva, morto em combate em Angola em 1963.
Um dos casos mais recentes foi Aquilino Gonçalves, militar português morto em Angola em 1961.
Aquilino Gonçalves foi sepultado no cemitério de Ponte de São Vicente, no concelho de Vila Verde (distrito de Braga), que é a sua terra natal.
A sua campa foi descoberta em 2010, por Carlos Rosa em Angola, ano a partir do qual a irmã do militar começou a desenvolver diligências no sentido de repatriar o corpo, mas os apelos que, desde então, desenvolveu, designadamente junto da Liga dos Combatentes e do Estado português, através dos sucessivos governos, não tiveram consequências.
“O Estado português, o nosso Estado nada fez pelos militares que lá ficaram. Levou-os para lá, mas para os trazer de volta nada fez”, sustenta a irmã Otília Gonçalves, referindo que o processo de trasladação do corpo de irmão custa cerca de oito mil euros, 6,5 mil dos quais para o Estado angolano e cerca de 1,5 mil euros para uma funerária, sem o menor apoio do Estado português, nem de qualquer outra entidade.
O facto dos custos associados ao processo de transladação dos corpos serem imputados às famílias, sem que o Estado Português assuma essa responsabilidade, é ultrajante e indigno.
Quanto ao Estado angolano receber 6,5 mil euros por cada transladação, parece-me basicamente uma vergonha.
Contudo, as atitudes dos outros, por muito desprezíveis que sejam, não justificam os nossos erros e omissões.
Após quase 50 anos de independência, Angola como país com enormes potencialidades que é, está muito aquém daquilo que seria expectável, muito por força das oligarquias, clientelismos, corrupção e falta de qualidade dos seus políticos. Antes, com Agostinho Neto; depois e sobretudo, com José Eduardo dos Santos.
Actualmente e salvo melhor opinião, não me parece que com João Lourenço, a situação em Angola esteja no caminho certo.
Já não tem nada a ver com o colonialismo. Este, quando ainda é invocado, serve basicamente para desviar as atenções dos problemas reais.
Mas hoje é desse Grande Português, Carlos Rosa que gostaria de centrar as atenções.
Nos seus tempos livres, sem qualquer interesse material, movido por algo bem profundo, uma força interior muito forte, percorre os cemitérios angolanos, indo à procura dos militares portugueses mortos, mas também à procura de si mesmo, da sua dignidade, da sua enorme Humanidade, das famílias, de todos nós.
Sobretudo, de todos nós. Por todos nós.
Temos todos o dever de conhecer, reconhecer, saber, valorizar, honrar e homenagear todos aqueles que combateram, sofreram e morreram no Ultramar.
E trazê-los de volta, se for essa a vontade explícita dos familiares.
Porque, mais uma vez, os mortos e os seus familiares também têm direito à Dignidade e ao Respeito.