Eu pertenço a uma família política proveniente da direita.
Direita democrática, moderna, europeia, humanista, inclusiva, pluralista, liberal. Tenho como referências políticas, personalidades tais como Winston Churchill, Konrad Adenauer, Helmut Kohl, Adolfo Suarez, Alcide De Gasperi, Aldo Moro.
Em Portugal, tenho infelizmente, muito poucas. Francisco Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e Francisco Lucas Pires, precocemente desaparecidos.
Da área da esquerda, gosto particularmente de António Barreto, Mário Soares e Manuel Alegre.
Uma das poucas referências vivas da direita das quais me revejo, é o professor Adriano Moreira.
Já tive o privilégio de me encontrar com o professor algumas vezes e sempre me impressionaram a inteligência superior, o sentido de Estado e a lucidez.
Adriano Moreira nasceu a 6 de Setembro de 1922 e residiu durante o primeiro ciclo de vida em Grijó, Concelho de Macedo de Cavaleiros, Trás-Os-Montes.
Fez na semana transacta a vetusta e provecta idade de 100 anos.
O Pai era polícia e a Mãe empregada doméstica. Durante a então escola primária, o seu professor, apercebendo-se da inteligência invulgar do jovem Adriano, convocou os pais, chamando-lhes a atenção que um menino com as suas potencialidades ficaria inevitavelmente perdido para lá do Marão.
O Pai solicitou transferência para Lisboa e a Mãe continuou a ser empregada doméstica, agora na capital.
Em boa-hora vieram para Lisboa. Com o passar dos sucessivos anos, o professor Adriano Moreira tornou-se um dos mais eminentes e prestigiados intelectuais portugueses, reconhecido por todos, amigos, conhecidos e adversários.
Adriano Moreira foi o nome escolhido pelo CDS para o Conselho de Estado.
Não poderiam ter escolhido melhor representante.
Em 1960, Salazar nomeou-o, Subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, apesar de, no final dos anos 40, jovem advogado, Adriano Moreira ter enfrentado o regime na defesa jurídica de militares opositores, o que lhe valeu, na altura, uma passagem pela prisão do Aljube.
Em 1961, pouco depois de a guerra eclodir em Angola e a seguir ao chamado “golpe Botelho Moniz”, uma tentativa falhada de golpe de Estado para substituir Salazar, Adriano Moreira foi nomeado Ministro do Ultramar.
A seguir ao 25 de Abril, foi perseguido e teve de exilar-se no Brasil, regressando a Portugal em 1977 e aderindo ao CDS, Partido do Centro Democrático Social, a convite de Diogo Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, Ruy de Oliveira e Narana Coissoró.
Numa das ocasiões em que nos encontrámos, o professor Adriano Moreira alertou para o ressurgimento da extrema-direita, factor que analisou com muita preocupação.
O que se veio a confirmar, infelizmente. Donald Trump, Jair Bolsonaro, Rodrigo Duterte, Viktor Orban não são mais do que personificações daquilo que o professor Adriano Moreira considerou como um perigo para as nossas democracias.
Estão lá todos os ingredientes do Fascismo: A autoridade dogmática e caceteira, o ódio contra tudo o é diferente e que não tem a mesma opinião, o racismo, a xenofobia, o desprezo pelas minorias, o desrespeito pelos mecanismos democráticos, a eterna devoção por personalidades autocráticas e messiânicas.
A História já nos mostrou essa galeria dos horrores, com Adolph Hitler à cabeça, com os resultados que estiveram a vista e que estão historicamente documentados. Todavia, parece muitos dos acontecimentos e lições subsequentes, caíram no esquecimento.
Aliás, uma das disciplinas que, ao longo dos sucessivos anos, tem vindo progressivamente a ser subalternizada em Portugal é a disciplina de História.
Contudo, encontramos muitos dos acontecimentos passados, que, infelizmente, têm recorrência nos acontecimentos mais recentes.
Mais do que nunca, as nossas democracias necessitam ser protegidas e preservadas.
Quanto ao professor Adriano Moreira mantém-se um pensador activo, tendo quarenta livros publicados, alguns com várias edições, desde livros jurídicos e outros, desde livros universitários, a livros de doutrina, de ciência política, de ciências sociais, de política internacional, de intervenção política. Intervém, desde há muito, por artigos de imprensa, bem como em revistas científicas.
Já após perfazer 90 anos, publicou cerca de 500 crónicas semanais no “Diário de Notícias”.
Caro Senhor Professor Adriano Moreira; aceite desde Setúbal os meus mais sinceros votos de um feliz aniversário.