Pensar Setúbal: O Tacho Solidário

Pensar Setúbal: O Tacho Solidário

Pensar Setúbal: O Tacho Solidário

, Professor
1 Março 2021, Segunda-feira
Giovanni Licciardello - Professor

Num destes dias, um grupo de colegas do Agrupamento de Escolas Lima de Freitas, respondeu ao apelo da colega Marta Vieitas Lopes e deslocaram-se à Rua Ladislau Parreira, na sede da CASA (Centro de Apoio aos Sem Abrigo), para confeccionarmos uma refeição, inserida no Projecto Social Tacho Solidário, com todos os cuidados inerentes ao Covid-19.

O Tacho Solidário é um projecto solidário, sem fins lucrativos, que teve como mentora essa grande setubalense e vitoriana chamada Cristina Augusto, e foi criado por um grupo de amigos em Maio de 2018, que tem como objectivo, ir ao encontro dos mais vulneráveis com o seu tacho, este cheio de comida quente, afectos e uma mão amiga.

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O espaço onde se situa a CASA, pertence ao actor setubalense Luís Aleluia, que o cede gratuitamente. A União de Freguesias de Setúbal também tem dado uma ajuda muito importante a esta associação.

Estivemos a confeccionar alimentos (sopa, bifanas e bolo de maçã) na companhia animada dos colegas e amigos Marta Vieitas Lopes, Pedro Sol, Jacinta Esteves, Clara Brito, Rute Sousa, Sérgio Silva, Paula Maia, Paulo Ramos, constituindo uma experiência extremamente enriquecedora.

Este é um tempo muito estranho, de distanciamento físico e emocional, onde sentimos a ausência das coisas simples, que nos dão alegria, tais como um beijo, um abraço, que temos como adquiridos, até nos confrontarmos com o vírus, que nos condiciona os afectos, até mesmo as emoções.

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Essa carência afectiva foi particularmente notória. Ainda bem que pudemos estar uns com os outros, mesmo com as máscaras, que não nos conseguem retirar o brilho da face.

No meio da azáfama, chegou a notícia que o Vitória tinha ganho ao Pinhalnovense por 4-1, o que contribuiu para um entusiasmo ainda maior.

Depois vem a parte triste e deprimente, no fundo, o motivo subjacente pelo qual estamos ali.

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A partir do fim da tarde, começou a verificar-se um movimento de pessoas que procuram alimentos e então temos um pouco de tudo. Pessoas diversas, simpáticas, envergonhadas, carentes, procurando no calor da refeição, o frio que têm por dentro.

A sopa pode aquecer-lhe e confortar-lhe as entranhas, mas não lhe aquece, nem conforta a Alma; os olhares alternam entre o perdido e o suplicante.

Se os olhos são o espelho da Alma, encontramos muitos vazios de significado.

Alguns são nossos conhecidos, pais de alunos que nos reconhecem ao longe e que ficam embaraçados; outros desconhecidos, unidos pela dor de um despedimento, pela ausência de rendimentos, pelos filhos, pelas amarguras e por todos os constrangimentos sobejamente conhecidos.

Muita pobreza oculta, camuflada, mas perceptível. Outra, bem explícita.

Conversando com a senhora Lúcia Pinho, voluntária, percebemos a dinâmica da pobreza, da carência, das dificuldades, dos casos concretos.

As pessoas que por aqui fazem voluntariado, merecem-nos todo o carinho, respeito, gente de coração muito, muito grande, do tamanho do Amor que têm para dar.

A minha colega e amiga Marta Vieitas Lopes é um exemplo disso mesmo: mulher de grande dimensão e humanismo.

Todos nós nos disponibizámos para voltar todas as vezes que for necessário.

Necessitamos de uma sociedade mais fraterna, inclusiva, humanista, tolerante. Necessitamos de Amor.

A boa notícia é que existem vários grupos de voluntários, que ocupam todos os dias da semana, confeccionando alimentos.

Necessitamos de resgatar o nosso sentido existencial, o sentido desta vida, nestes pequenos, mas significativos gestos.

 

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