PENSAR SETÚBAL: O sismo de 1969

PENSAR SETÚBAL: O sismo de 1969

PENSAR SETÚBAL: O sismo de 1969

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11 Março 2019, Segunda-feira
Giovanni Licciardello - Professor
Giovanni Licciardello – Professor

Há 50 anos atrás, precisamente no dia 1 de Março de 1969, pelas 3.41 horas, deu–se um terremoto em Portugal, que atingiu o grau de 7,5 na escala de Richter, com epicentro no Banco, ou Crista de Gorringe, uma falha geológica situada no Oceano Atlântico, a Sudoeste de Sagres.

Em termos geológicos, Portugal está fortemente condicionado pela interacção entre três placas tectónicas que compõem a litosfera da Terra e que se movimentam entre si: as placas euroasiática, a norte-americana e a africana.

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A placa euroasiática e a placa norte-americana estão a afastar-se uma na outra, num movimento de divergência que é responsável pela intensa actividade sísmica registada no arquipélago dos Açores e pelo aumento do Oceano Atlântico de cerca 2 centímetros por anos. Todavia, a placa africana exerce pressão na placa euroasiática, podendo acumular tanta energia nas rochas que cria sismos devastadores quando se liberta.

Portugal fica numa zona muito particular da placa euroasiática. Chama-se microplaca ibérica, movimenta-se para leste e está a soldar-se à placa asiática. Essa microplaca, no entanto, é influenciada pela placa africana, que se está a mexer para noroeste. À medida que a placa africana se mexe, ela comprime a microplaca ibérica.

É esta compressão que tem originado sismos, tais como o registado em 1755, bem como a formação da Crista Gorringe, um maciço montanhoso submerso, localizado a 120 milhas marítimas a Sudoeste do Cabo de São Vicente que fica precisamente na zona onde a placa ibérica cavalga a africana numa taxa de quatro milímetros por ano.

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Em Março de 1969, curiosamente acordei pouco tempo antes, pelo que a única percepção que tive foi um ruído de baixa frequência, profundo, intenso, metálico, que identifiquei como se fosse uma camioneta a passar, com uma corrente metálica a fazer barulho. Só quando meu Pai gritou que era um terremoto e para irmos todos para a rua, é que me apercebi realmente do que se tratava.

 

Ao sairmos, meu Pai avisou-me de imediato para não utilizar o elevador e de usarmos as escadas.

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Os três (eu e os meus pais) galgámos rapidamente escadas abaixo, todos para a rua, em pijama e roupão, na direcção da Praça do Bocage, encontrando-se repleta de gente, às 4/5 horas da madrugada.

 

O balaústre (uma estrutura decorativa, em pedra) da Igreja de S. Julião desmoronou-se e caiu, mesmo em cima do carro do padre (um Volkswagen carocha branco) que se encontrava estacionado  em frente da entrada principal da Igreja.

 

Passado algum tempo voltámos para casa, e quando nos encontrávamos na cama, deu-se uma réplica, pelo que regressámos definitivamente para a rua, levando o automóvel para a avenida Luísa Todi.

 

Relatos da altura revelaram que a terra tremeu com intensidade, levando a que alguns relógios tivessem parado no momento exacto da produção do fenómeno.

 

 

 

Em Setúbal, feridos graves não houve, assinalando-se apenas meia dúzia de pessoas que tiveram necessidade de tratamento no Hospital de S. Bernardo, devido a depressões nervosas causadas pelo susto.

 

A nível de estragos materiais, a situação foi um pouco mais complicada, em virtude de muitos edifícios antigos apresentarem rachadelas e telhados que caíram.

 

Um sismo é algo que nos desperta um medo visceral, ilógico, irracional pela sua intensidade e muitas vezes pela sua violência.

 

Sentimo-nos impotentes, frágeis e desprotegidos perante a força da Natureza, na sua vertente mais destrutiva.

 

Passados todos estes anos, ainda recordo esses acontecimentos com particular nitidez e intensidade.

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