PENSAR SETÚBAL: O Anfiteatro Romano em Pompeia e o Auditório do Largo José Afonso   

PENSAR SETÚBAL: O Anfiteatro Romano em Pompeia e o Auditório do Largo José Afonso   

PENSAR SETÚBAL: O Anfiteatro Romano em Pompeia e o Auditório do Largo José Afonso   

, Professor
27 Janeiro 2025, Segunda-feira
Professor

Embora tenha ido por diversas vezes a Itália, nunca tinha visitado Pompeia. Como professor da disciplina de Ciências Naturais, tinha imensa curiosidade em ir in loco ver a cratera do vulcão Vesúvio, bem como procurar ainda alguns indícios e consequências da grande erupção que ocorreu no ano 79 d.C. e que soterrou completamente a referida cidade, matando a maior parte dos seus habitantes.

Um dos aspectos que mais impressiona é a existência de corpos carbonizados que ainda se encontram bem visíveis. Os tecidos moles, bem como os ossos dos corpos foram preenchidos por cinza vulcânica e lapilli, ou seja,  piroclastos com dimensões pequenas que são produzidos durante uma erupção vulcânica explosiva, tendo preservado os moldes das formas humanas (mulheres, homens e crianças) que se encontram em posições grotescas; a morte deve ter surgido de forma brutal e instantânea.

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Passeando pela cidade de Pompeia, deparei-me com um magnífico anfiteatro romano, com a existência e um palco amplo, espaço mais que suficiente para colocar uma orquestra e bancadas dispostas em forma elíptica, praticamente equidistantes do palco.

A disposição do espaço e as condições acústicas eram magníficas. Os romanos tinham cuidados acrescidos com a disposição das bancadas, bem como com a propagação do som.

Os espectáculos de Teatro e de Música tinham de se ouvir bem, em qualquer local onde se encontrassem os espectadores.

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O Anfiteatro de Pompeia não ocupa um espaço demasiadamente grande e possui uma capacidade estimada para 5000 pessoas.

Logo me veio à ideia, por antítese, o nosso famigerado auditório do Largo José Afonso, construído 2000 anos depois do anfiteatro de Pompeia e estando a anos-luz deste.

Passados 17 anos, nunca consegui compreender como se decidiu edificar uma construção daquelas, que custou 4,5 milhões de euros, sem que ninguém tivesse colocado qualquer objecção, se tenha insurgido, ou, no limite, tivesse inclusivamente dado um valente murro na mesa.

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Supostamente, quando se decide construir um auditório para a realização de espectáculos, para além de quem projectou, dos serviços técnicos da Câmara Municipal de Setúbal, deveria também existir um parecer técnico de especialistas em som, músicos, maestros, etc. para que a tomada de decisão fosse a mais correcta possível.

Pelos vistos, não deve ter acontecido nada disso; o auditório do Largo José Afonso não passa de um triste símbolo de vulgaridade urbana.

Neste caso concreto, o que mais me impressiona, indigna e revolta é a sua evidente inutilidade.

E a prova disso mesmo, decorre do facto de, sempre que se vai efectuar um espectáculo nesse local, montam e a seguir desmontam um palco provisório, mesmo encostado ao mamarracho.

O auditório também ocupa uma área no solo absolutamente obscena, com poucos lugares sentados, de um lado e uma escadaria do outro que não serve sequer para nos sentarmos.

“O Túnel do Vento”, “O Urinol”, “A Baliza”, “O Pórtico”, “O Arco do Triunfo” eis algumas das adjectivações que fui recolhendo ao longo dos anos. 

Isto sem falar nas três quadrúngulas (leia-se rotundas quadradas) da Av. Luísa Todi, uma delas bem em frente ao auditório, que teimam em persistir, contrariando todas as evidencias rodoviárias, quer de largura das faixas de rodagem, quer de prioridade na circulação.

A quadrúngula localizada em frente ao Mercado do Livramento é uma perfeita aberração, uma vez que colocaram em confluência três faixas: Av. Luísa Todi, quadrúngula e Rua Ocidental do Mercado, aumentando dessa forma os engarrafamentos de trânsito.

Antes da infeliz colocação dessa quadrúngula, existiam dois arcos de circunferência, mais afastados e bem mais eficazes.

Relativamente ao auditório, embora se comente que possa ser modificado e a ideia até poder ser teoricamente meritória, após ter visto o anfiteatro romano em Pompeia, quanto a mim, o auditório do Largo José Afonso ia mesmo abaixo.

Demolição pura e dura.

A minha avó Júlia dizia muitas vezes “aquilo que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”. 

Em Setúbal, dada a escassez de salas de espectáculos de grandes dimensões (o Fórum Luísa Todi é a única honrosa excepção à regra), e dada a cada vez maior importância que a cidade e o Concelho começam a ter, nomeadamente no canto lírico, fica aqui uma fotografia parcial do Anfiteatro Romano em Pompeia.

Pode ser que sirva de inspiração para edificações futuras.

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