Pensar Setúbal: Marcelino da Mata, Mamadou Ba, Auriol Dogmo, Pedro Pichardo e Patrícia Mamona

Pensar Setúbal: Marcelino da Mata, Mamadou Ba, Auriol Dogmo, Pedro Pichardo e Patrícia Mamona

Pensar Setúbal: Marcelino da Mata, Mamadou Ba, Auriol Dogmo, Pedro Pichardo e Patrícia Mamona

, Professor
15 Março 2021, Segunda-feira
Giovanni Licciardello - Professor

No passado mês de Fevereiro, faleceu de Covid-19, Marcelino da Mata, militar português nascido na Guiné, que durante a Guerra Colonial lutou pelas Forças Armadas de Portugal, tendo participado em cerca de duas mil e quinhentas operações de combate. Era conhecido pela sua coragem e ferocidade, sendo-lhe imputados crimes de guerra.

Marcelino da Mata foi o militar português mais condecorado de sempre. Apesar do seu funeral não ter tido honras militares, estiveram presentes Marcelo Rebelo de Sousa e os Chefes do Estado Maior das Forças Armadas e Exército.

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Na sequência do falecimento de Marcelino da Mata, Mamadou Ba, ex-assessor do Bloco de Esquerda, referindo-se-lhe, afirmou que era “um criminoso de guerra que não merece respeito nenhum”.

Após estas declarações, cerca de trinta mil pessoas assinaram uma petição pública que exige a saída de Mamadou Ba do país.

Em Democracia temos de procurar esgrimir argumentos com rigor e isenção.

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Durante todo o século XX, os processos de independência dos países africanos sucederam-se naturalmente, num “efeito de dominó”.

No dealbar dos anos 60, somente Portugal mantinha, contra todas as evidências históricas, a ditadura e o império do Minho a Timor.

Com a Guerra Colonial, em três frentes, que se prolongou por treze anos, morreram cerca de dez mil soldados, a que se adicionaram sequelas físicas e psicológicas que afectaram toda uma geração, naquilo que foi um erro trágico da História.

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Quanto a Mamadou Ba, português nascido no Senegal, tornou-se conhecido na nossa sociedade pela sua luta contra o racismo.

Contudo, com a notoriedade, vem a responsabilidade acrescida. Apelidar as forças de segurança de “bófia” e “bosta”, fica-lhe mal, configurando falta de contenção e de tacto. Podemos ser directos, frontais e assertivos e simultaneamente educados, sóbrios e respeitadores.

Discordo do abaixo-assinado que solicita a saída de Mamadou Ba do nosso país, que agora também é o dele. Vivemos numa sociedade democrática e plural, onde todos têm o direito de exprimir a própria opinião.

Todavia, Mamadou Ba confunde conceitos; a sua postura agreste impede-o de distinguir o regime, do militar; a geografia, do patriotismo; a liberdade de opinião, do insulto e a análise isenta, da dualidade de critérios. Tenho algumas dúvidas se Marcelino da Mata pertencesse ao PAIGC, e tivesse feito o que fez, se o discurso seria o mesmo.

Os acertos de contas com a História, passadas quase cinco décadas, são sempre muito complicados de fazer.

A polémica que se gerou em torno da figura de Marcelino da Mata, é uma constatação de que a Guerra Colonial ainda é uma ferida aberta que continua por sarar.

A Guerra Colonial, como em qualquer conflito armado, muitas vezes não há inocentes.

De um e do outro lado da História.

Para concluir, fiquei extremamente orgulhoso quando vi a portuguesa de origem camaronesa Auriol Dogmo, o português de origem cubana Pedro Pichardo e Patrícia Mamona, portuguesa nascida cá de origem angolana, cantarem emocionados o nosso hino, ao vencerem as medalhas de ouro respectivas.

Auriol optou por se mudar para Portugal em 2017, por razões desportivas e religiosas, uma vez que é católica e devota de N.ª Sr.ª de Fátima. Pichardo fugiu de Cuba e adquiriu a nacionalidade portuguesa.

Patrícia Mamona venceu recentemente o vírus Covid e também por isso mesmo, o que fez na final do triplo salto, foi fabuloso.

Portugal deve orgulhar-se sempre da sua universalidade e multiculturalidade.

 

 

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