PENSAR SETÚBAL: Leituras de Verão: A Guerra na Ucrânia

PENSAR SETÚBAL: Leituras de Verão: A Guerra na Ucrânia

PENSAR SETÚBAL: Leituras de Verão: A Guerra na Ucrânia

30 Agosto 2023, Quarta-feira
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Um dos livros que li este Verão e que aconselho vivamente é o livro da autoria do escritor norte-americano Paul D’Anieri intitulado “Ucrânia e Rússia: do Divórcio Civilizado à Guerra Incivil”.

É um livro excelente que nos retrata o resultado do frágil equilíbrio que se criou na Europa desde 1989 e das relações causa-efeito que se estabeleceram a partir daí.

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Queremos ao mesmo tempo que a Rússia se mantenha satisfeita com aquilo que obteve e que a Ucrânia mantenha a sua independência e integridade territoriais. Mas não é claro que ambos os objectivos sejam exequíveis

Bastaram poucos anos para que esta contradição se agudizasse; a invasão em larga escala da Ucrânia decidida por Vladimir Putin a 24 de Fevereiro de 2022, rompeu definitivamente aquilo que durante décadas foi um equilíbrio muito precário. O colapso da União Soviética e a conclusão da Guerra Fria acarretaram novas interrogações relativamente às relações internacionais entre diversas potências

Seria necessário poder chegar a compromissos e que a guerra não era inevitável até ao momento em que Putin decidiu invadir.

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Segundo D’Anieri, a Rússia pretendia que a Ucrânia aceitasse o próprio domínio, assim como queria que o Ocidente aceitasse a possibilidade daquela poder controlar algumas dinâmicas da Europa de Leste.

Os Estados Unidos, por seu turno, pretendiam que a Rússia aceitasse não ser mais una grande potencia mundial, mas simplesmente uma “nação normal”. E assim sucessivamente.

Aquilo a que estamos assistindo não teve necessariamente a ver somente com o alargamento a Este da NATO, mas torna-se claro que a decisão última e definitiva de invasão tenha sido a de Putin, sentindo a ameaça potencial de tal alargamento.

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Porquanto possamos criticar as políticas dos Estados Unidos (que em matéria de política externa deixam muitas vezes muito a desejar) da NATO, ou inclusivamente da Ucrânia, quem decidiu unilateralmente invadir a Ucrânia, foi a Rússia, como já tinha feito anteriormente com a Geórgia, anexando a Abecásia e a Ossétia do Sul.

D’Anieri sustenta que, mais tarde ou mais cedo, terão de existir negociações, embora esteja tudo dependente daquilo que se passa no campo de batalha. Cada vez que uma parte prevalecerá sobre a outra, menos essa parte estará disposta a negociar e mais elevadas serão as suas exigências. Todavia, isso pode demorar muito tempo.

Do ponto de vista estratégico, a Crimeia, juntamente ao corredor que conecta o Donbass, é muito importante para a Rússia. Mas também constitui espaço vital para a Ucrânia.

Ainda segundo D’Anieri, a Ucrânia tem seguramente a responsabilidade de não ter conseguido acautelar preventivamente a própria segurança, não somente no aspecto militar, mas no económico. Até 2014, a sua capacidade militar era muito reduzida.

A grande realidade é que a Rússia simplesmente, nunca conseguiu aceitar nem digerir o facto da Ucrânia possuir um forte sentimento nacionalista e de não querer fazer parte da Rússia. No tempo do Czar, a língua ucraniana foi proibida.

D’Anieri coloca o acento tónico no Holodomor, um dos acontecimentos históricos pouco conhecidos e que provocou entre 1932 e 1933, a morte de milhões de ucranianos pela fome, nos tempos do comunismo e de Estaline. As pessoas recorriam a formas extremas de canibalismo para procurar mitigar a fome.

Todas estas ocorrências geraram, promoveram e incentivaram o tal sentimento nacionalista mencionado atrás, por parte da Ucrânia.

Por último, D’Anieri sustenta que deve existir, em sentido mais lato, um acordo de fundo, uma ideia comum entre vários países e organizações internacionais, a fim de prevenir situações de conflitualidade, algo que está ainda muito longe de ocorrer.

Este é um livro escrito numa linguagem escorreita, rápida, incisiva que coloca o leitor perante inúmeras dinâmicas que se interligam e que nos levam a pensar a recorrência das guerras e tudo aquilo que deve ser imperiosamente feito para evitá-las.

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