Amanhã, Superterça-feira, teremos as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América (EUA). Estas, pela sua importância, transcendem o espaço físico, cultural, político e emocional americano e projectam-se um pouco por todo o mundo, afectando directa, ou indirectamente, as dinâmicas dos restantes países.
Europa e EUA têm questões estratégicas e tácticas de fundamental importância, na adopção de uma política comum, nomeadamente com a forma como encaramos a Rússia e a China.
Aqui chegados, temos duas opções perfeitamente claras e distintas; o equilíbrio, o sentido de estado, a responsabilidade e a grosseria, o despudor e a mentira.
A minha primeira pergunta é a seguinte: como é possível um partido prestigiado como o Partido Republicano que deu presidentes admiráveis tais como Abraham Lincoln, Theodore Roosevelt ou Dwight Eisenhower, se encontre refém de um indivíduo como Donald Trump?
Donald Trump é, antes de mais, um indivíduo ignorante. Chama Golfo Arábico ao Golfo Pérsico, confunde Iraque com Síria, pensava que a Finlândia fazia parte da Rússia; numa conferência de imprensa com a primeira-ministra norueguesa, congratulou-se com a venda de caças F-52, que não existem, a não ser num jogo de computador.
É rude, façanhudo, mal-educado, errático, perigoso, com uma incapacidade em avaliar as consequências das suas atitudes e procedimentos; e um fascista inveterado.
Quando Trump afirma que pretende construir um fosso de três mil quilómetros repleto de cobras e crocodilos, para impedir a entrada de imigrantes nos EUA, ou que estes quando chegam aos EUA comem os cães e gatos dos residentes, estamos basicamente conversados.
Precisamente ele, cujos antepassados são provenientes da Europa, devia pensar antes de abrir a boca.
Mente despudoradamente, utiliza a desinformação como arma política, fomenta a violência, não aceita resultados eleitorais e quer controlar a Justiça.
A invasão do Capitólio, ocorrida a seis de Janeiro de 2021, foi um acto bárbaro, vergonhoso e indigno (e muito perigoso), patrocinado por Trump.
Donald Trump foi declarado culpado em 34 acusações criminais, nomeadamente por ocultar o pagamento de 130 mil dólares à ex-actriz pornográfica Stormy Daniels, para que não o prejudicasse nas eleições de 2016, em que venceu Hillary Clinton.
Donald Trump é uma catástrofe ambulante, tão ao gosto da Rússia autocrática de Putin, das ditaduras comunistas da China e da Coreia do Norte de Xi e de Kim e da teocracia do Irão.
Nas eleições de 2020, pela primeira vez na história dos EUA, o lugar de vice-presidente foi atribuído a uma mulher, Kamala Harris, agora candidata à presidência.
A circunstância de ser de origem indiana, pela parte materna e negra, pela paterna, configura uma evolução na sociedade americana, tal como foi a eleição de Barack Obama.
Todavia, em minha opinião, a principal relevância reside em ser precisamente uma mulher.
Uma sociedade afere-se também pela forma como as mulheres se inserem. Quando pensamos em muitos países por esse mundo fora, constatamos que ainda existe um longo e árduo caminho a percorrer, relativamente aos direitos das mulheres.
No Afeganistão, as mulheres desafiam os talibãs e cantam em protesto contra a nova lei que as proíbe de falar em público.
E, portanto, o facto de Kamala Harris poder vir a ser a futura presidente norte-americana, serve também como uma forma de fazer pedagogia, através da força do exemplo, nomeadamente para essas partes do mundo onde as mulheres são menorizadas.
Parece-me ser uma pessoa inteligente, consistente e assertiva, é bonita e tem um sorriso aberto, em contraste absoluto com o façanhudo.
Kamala Harris tem em si os fundamentos das sociedades democráticas, por onde se movimenta o mundo ocidental.
Defende o direito da existência simultânea do Estado de Israel, tal como do Estado Palestiniano, procurando uma alternativa de paz para aquela região e que ponha fim a uma carnificina que se eterniza no espaço e no tempo.
Apoia a manutenção dos EUA na NATO e apoia indiscutivelmente a Ucrânia, nesta guerra interminável contra a Rússia.
Tem sobre a imigração, uma posição equilibrada; nada de cobras, nem crocodilos de sentinela, nem cães e gatos comidos.
Gostaria de poder votar nas eleições presidenciais norte-americanas.
Estão em causa valores civilizacionais, partilhados pela Europa e pelos EUA. Temos laços comuns muito fortes.
Eu votaria em Kamala Harris.
E o caro leitor, em quem votaria?