Esta minha ideia peregrina de podermos votar nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América (EUA), é um mero exercício académico, porque, como é óbvio, só os cidadãos norte-americanos é que podem escolher o seu presidente.
Mas, em termos abstratos, é um cenário que me agrada. Não sou americano, mas acompanho sempre muito atentamente as respectivas eleições.
Estas, pela sua importância, transcendem o espaço físico, cultural, político e emocional americano e projectam-se um pouco por todo o mundo, afectando directa, ou indirectamente, as dinâmicas dos restantes países.
As relações entre europeus e norte-americanos, têm tido as suas flutuações ao longo do tempo.
Os EUA foram desde o século XVII, logo após o simbólico barco Mayflower ter chegado ao Novo Mundo, até ao século XX, uma emanação da nossa velha Europa, infelizmente em detrimento da civilização nativo-americana.
Milhões de pessoas dos mais variados locais, mas maioritariamente da Europa, afluíram à terra das oportunidades, na procura de melhores condições de vida.
A Declaração de Independência dos EUA, redigida sobretudo por Thomas Jefferson, é um documento fascinante que recomendo vivamente e que inspirou os principais conceitos basilares que sustentam as nossas democracias.
Temos, portanto, laços comuns muito fortes.
Na Primeira, mas sobretudo, na Segunda Guerra Mundial, o apoio norte-americano foi indispensável, nomeadamente contra o perigo nazi.
Após a Segunda Guerra Mundial, e durante toda a Guerra Fria, foram os EUA que nos protegeram das ditaduras comunistas, através do seu poder de dissuasão bélica.
Com a queda simbólica do Muro de Berlim, o “chapéu” protector deixou de fazer tanta falta, e então sobressaíram as diferenças que existiam, mas que se tinham mantido ocultas.
Principalmente desde os anos noventa, tem vindo a desenvolver-se em algumas franjas das nossas sociedades europeias e, em particular, em alguma esquerda, um sentimento anti-americano.
Vimos vários milhares de pessoas nas ruas a protestar contra a ocupação anglo-americana do Iraque, mas não vimos uma só pessoa, nestas nossas mesmas ruas, a manifestar repudio pelos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.
As culpas, como seria de esperar, encontram-se nos dois lados. Por um lado, a tendência dos americanos em considerarem-se os “donos” do mundo, e consequentemente, manifestarem alguma arrogância e sobranceria relativamente aos restantes.
Por outro, a incapacidade e por vezes a falta de coragem e de articulação da nossa velha Europa, em apresentar uma voz unida, e ser firme não só em relação aos EUA como também a outros, nomeadamente a Rússia “Putiniana” e a China comunista.
Por vezes, torna-se necessário um pouco de ambas. Coragem temperada com diplomacia. Contudo, salvo para com o terrorismo, deve prevalecer quase sempre a diplomacia. Mas com firmeza.
Europa e América devem compreender-se mutuamente, em virtude de possuirmos laços comuns, uma mesma herança civilizacional e não incentivar o isolacionismo, que é a antítese das nossas relações.
E é por isso que gostaria de votar nas eleições presidenciais norte-americanas. Donald Trump é um sujeito rude, ignorante, perigoso, fascistóide.
Como diz Viriato Soromenho-Marques, é paupérrimo em decência.
Eu iria votar em Joe Biden.
E o caro leitor, em quem votaria?
Can we, europeans, vote too?