Pensar Setúbal: Donald Trump e a compra da Gronelândia

Pensar Setúbal: Donald Trump e a compra da Gronelândia

Pensar Setúbal: Donald Trump e a compra da Gronelândia

, Professor
20 Janeiro 2025, Segunda-feira
Professor

A mais recente movimentação de Donald Trump, diz respeito à hipotética aquisição da Gronelândia.
Ao longo dos séculos, a expansão do Estados Unidos da América (EUA) através da compra de terras não é nova; aliás, grande parte do território cresceu dessa forma. Senão vejamos:
1803: Louisiana Purchase, 15 milhões de dólares – Presidente: Thomas Jefferson.
Este território foi comprado à França, liderada na altura por Napoleão Bonaparte. A historiografia americana considera esta aquisição com um dos melhores negócios realizados pelos EUA. De notar que o território do Louisiana (chamado dessa forma em homenagem ao rei francês Luís XIV) era muito maior que o actual Estado com esse nome. Incluiu todo o território entre o rio Mississippi e as montanhas Rochosas, contendo a totalidade ou parte dos actuais estados de Montana, Dakota do Norte e do Sul, Wyoming, Minesota, Iowa, Colorado, Kansas, Missouri, Oklahoma, Arkansas, Novo México, Texas e a actual Louisiana. Quase um terço da actual área.
1819: Flórida, 5 milhões de dólares – Presidente James Monroe.
A Flórida pertencia à Espanha, que não tinha condições de defendê-la militarmente. Face às ameaças de invasão por aventureiros americanos e temendo perder o território pela força, a Espanha concordou em vendê-la.
1853: Arizona e Novo México, 10 milhões de dólares – Presidente Franklin Pierce.
Em 1848, após o final da Guerra entre o México e os EUA, continuavam por resolver as disputas fronteiriças entre os Estados Unidos e o México. Os EUA negociaram com o México a compra destes territórios.
1867: Alasca, 7,2 milhões de dólares – Presidente Abraham Lincoln.
O Alasca foi comprado ao Império Russo, graças à insistência do então Secretário de Estado dos EUA, William Seward.
1898: Filipinas, Guam e Porto Rico, 20 milhões de dólares – Presidente William McKinley.
Estes territórios foram comprados à Espanha. Enquanto Guam e Porto Rico se mantêm, até hoje, como territórios dos EUA, as Filipinas não reconheceram a legitimidade da transação, revoltaram-se contra as forças norte-americanas e desencadearam uma guerra pela independência que durou três anos. Contudo, Washington só reconheceu a independência das Filipinas muitos anos depois, em 1946.
As Filipinas são um “pequeno detalhe” que convém que Donald Trump tenha conhecimento. A vontade das populações.
1917: Ilhas Virgens, 25 milhões de dólares. Presidente Woodrow Wilson.
Os EUA compraram as Ilhas Virgens, situadas na Caraíbas, à Dinamarca, em plena I Guerra Mundial.
Regressemos ao presente e à vontade de Trump em adquirir a Gronelândia.
Não esquecer que os EUA possuem uma base militar em território gronelandês (Base de Thule).
Com uma população estimada em 56.856 habitantes, a Gronelândia é um território coberto por gelo, que tem estado fora do radar dos interesses dos diversos países.
Todavia, com o progressivo degelo das calotas polares e dos glaciares decorrente das alterações climáticas, este território assume um interesse estratégico acrescido, com o florescimento de novas vias marítimas, bem como recursos minerais em abundância, com os potenciais custos ambientais inerentes a essas actividades.
Os russos e os chineses também andam por ali.
Desde o século XVI foi colonizada pelo Reino da Dinamarca, sendo a população predominantemente de origem inuit.
Ao longo das sucessivas décadas, tem-se observado um crescente nacionalismo, dada uma cada vez maior consciência ambiental, bem como a necessidade de preservação das suas tradições culturais.
No caso da Gronelândia, existe uma situação que eu considero ambivalente, ou seja, se a população aspira a uma maior autonomia, por outro, existe uma percepção de que a relação com a Dinamarca oferece um certo grau de segurança, especialmente de um ponto de vista estratégico, económico, ambiental e até político que a torna uma fonte de estabilidade.
Esta intenção americana penso que poderá colidir com a aspiração do povo gronelandês, gerando um aumento das expressões de orgulho nacional e uma resistência a intervenções externas.
Seja como for, a questão central aqui, é a vontade dos gronelandeses.

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