Principalmente após a 2ª Guerra Mundial, decorrente da generalização e de uma melhoria acentuada nos transportes, acompanhada também de uma progressiva evolução nas mentalidades e consequentemente nos paradigmas, as pessoas circulam cada vez mais neste nosso complexo, mas fascinante mundo.
O contacto e o convívio entre gentes diversas, muitas provenientes de locais remotos, com formas diferente de pensar e de sentir, deve constituir sempre um factor de enriquecimento nos tecidos sócio/político/culturais dos diversos países.
Penso que a Democracia e a Liberdade só podem sair reforçadas com todas estas movimentações.
Num ano anterior, fui professor de uma turma que lhe chamava a “turma arco-íris”. Portugueses, ucranianos, chineses, brasileiros, moldavos, russos, cabo-verdianos, angolanos. Foi uma experiência extremamente enriquecedora.
Nas escolas devemos promover a multiculturalidade como factor de Liberdade.
Quando vejo Pedro Pichardo, lembro-me logo de meu Pai. italiano dos quatro costados, siciliano, proveniente de Catania, entre sopé do vulcão Etna e o mediterrâneo.
Foi o mar que o trouxe e a paixão que o fez ficar por aqui.
Na religião católica existe uma trilogia de montes, localizados actualmente entre o Egipto e Israel, tal como o Monte Sinai, o Monte Sião e o Monte Carmelo. Foi este último nome que os pais lhe atribuíram.
Carmelo. Carmelo Licciardello.
O facto de ser bilingue, de ter sempre presente as duas culturas portuguesas e italianas, constituiu sempre um factor de enriquecimento, quer de cultura, quer de percepção.
O que me leva a Pedro Pichardo, recente campeão europeu do triplo salto.
Pedro Pablo Pichardo nasceu em Santiago de Cuba, em Cuba em 1993. Mais tarde, mudou-se para a capital, Havana por falta de condições para treinar em Santiago e ia com o seu pai e treinador, Jorge Pichardo, de comboio para as competições com a ajuda de amigos que lhes emprestavam dinheiro.
Em 2017, durante um estágio em Estugarda, conseguiu escapar à vigilância dos agentes da segurança do Estado cubano que se encontram sempre presentes nas deslocações ao estrangeiro, motivo pelo qual está proibido de entrar em Cuba.
Antes disso, o atleta já tinha tido vários problemas com a federação cubana. Em 2014 impediram-no de continuar a trabalhar com o pai, tendo sido castigado por um período de um ano.
O pai treinava o filho às escondidas, tendo sido posteriormente impedido de continuar a exercer a profissão de treinador.
Portugal tem procurado ser um país de grande tradição humanista. Numa primeira fase, fomos um país de emigrantes, para o Brasil e Europa, principalmente França.
Hoje somos também um país de acolhimento de pessoas que procuram o nosso país para viverem.
São muito bem-vindos, todos aqueles que vierem por bem.
Lembro-me perfeitamente de ver meu Pai, italiano de gema, levantar-se do seu lugar no estádio, ao meu lado, e aplaudir com entusiasmo os três golos que o Vitória marcou à Fiorentina e os dois golos ao Inter de Milão.
Recordo-o com muita, muita saudade e emoção. Não viveu para que a sua presença fosse notada, mas para que a sua ausência fosse sentida.
Tudo isto vem provar que, tal como para se ser setubalense genuíno não é necessário ter nascido em Setúbal, também para se ser verdadeiramente português não é imperioso ter nascido em terras lusas.
Pedro Pablo Pichardo que treina em Setúbal e vive no Pinhal Novo conquistou a medalha de ouro nos Europeus multidesportos, em Munique, na Alemanha, juntando assim este título europeu ao olímpico e ao mundial, sagrando-se campeão da Europa do triplo salto ao ‘voar’ 17,50 metros.
Mais importante que tudo, ganhou o nosso respeito, afecto e carinho. E isso vale mais que qualquer medalha.
Caro Pedro. Gosto muito de o ver cantar o hino de Portugal com Alma.
Muitos parabéns e muitas felicidades.