PENSAR SETÚBAL: A Síria e os ditadores

PENSAR SETÚBAL: A Síria e os ditadores

PENSAR SETÚBAL: A Síria e os ditadores

, Professor
16 Dezembro 2024, Segunda-feira
Professor

O caso Watergate era assunto recorrente na imprensa diária. Foi o meu zio Pippo (Giuseppe Licciardello), nas nossas deambulações pela Setúbal de então que me explicou detalhadamente este caso, cujo início se deu em 1972 e que viria a culminar com a renúncia do então presidente do EUA, Richard Nixon em 1974.[

Fiquei então a conhecer Bob Woodward e Carl Bernstein. Fiquei a saber que podia haver corrupção na política; fiquei também a saber a importância de uma imprensa livre, corajosa, responsável, independente de quaisquer poderes.

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O outro acontecimento foi, como referi atrás, a guerra de Yon Kippur que opôs Israel a um conjunto de países árabes, entre os quais pontificava a Síria, como um dos principais protagonistas.  

Nessa ocasião, o seu presidente já era Hafez al Assad, pai do presidente deposto Bashar al Assad.

Os Assad dominam a Síria desde 1970, quando Hafez conquistou o poder através de um golpe de estado. E não mais o largou.

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Desde então, a dinastia Assad é considerada uma das mais corruptas e repressivas da história recente.

Os ingredientes do costume estão lá todos, a saber:

1 – Ditadura, com um partido único, o Partito Baath, onde qualquer vestígio de contestação resultou em centenas de milhares de mortos, entre opositores, rebeldes e dissidentes. Uma das características do regime era a brutalidade e a rapidez com que qualquer oposição era esmagada. Nos primeiros anos do seu regime, Hafez al Assad eliminou todos os rivais internos, a fim de consolidar o próprio poder.

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Bashar al Assad continuou a usar a repressão e a violência. Centenas de milhares de opositores foram presos, torturados e mortos.

Em 2013, o regime usou armas químicas, nomeadamente gás sarin e gás cloro, contra a sua própria população, com o apoio da Rússia e do Irão. Estima-se que em treze anos de guerra civil (2011-2024), tenham sido mortas cerca de meio milhão de pessoas. 

Como dizia cinicamente Estaline “um morto é uma tragédia; um milhão de mortos, um dado estatístico”.

2 – Cleptocracia, ou seja, um regime no qual as riquezas são distribuídas pelo grupo do poder, onde os interesses económicos comuns reforçam as fidelidades políticas.

3 – Nepotismo. Affez al Assad teve seis filhos e uma filha. Bassel, o primogénito foi, desde tenra idade, preparado para suceder ao pai; todavia, morreu num acidente de viação, pelo que se seguiu Bashar um oftalmologista que estudou em Londres, tal como a mulher Asma Akhras. 

Em 2000, quando Hafez morreu, Bashar manteve as principais linhas orientadoras da ditadura.

4 – Culto da personalidade, onde centenas de estátuas de Affez al Assad foram erigidas em cada cidade do país, para além da sua fotografia estar presente em cada loja, autocarro, poste de iluminação, em cada automóvel. “Eu não queria, mas povo é-me muito dedicado”, declarou Assad a um jornalista.

5 – Acumulação de riqueza, dentro e fora do país, para prevenir situações como esta. Segundo o departamento de Estado norte-americano, Bashar al Assad tem um património líquido estimado em 2 mil milhões de dólares, muito dos qual se encontra na Rússia, que, a par com o Irão, tem sido o sustentáculo do regime. Assad tinha uma garagem com mais de 40 carros de luxo.

Em 2019, uma notícia do Financial Times revelou que a família Assad é proprietária de um total de 18 apartamentos de luxo em Moscovo.

6 – Expansão territorial. A maioria não resiste à tentação de tentar conquistar território que não lhes pertence.

Ao longo da minha vida acompanhei o percurso de muitos ditadores. Os comunistas Mao, Pol Pot, Enver Hoxha, Nicolai Ceausescu, Erich Honecker, Fidel Castro, a dinastia Kim, da Coreia do Norte, os fascistas Augusto Pinochet, Jorge Videla, Leopoldo Galtieri, Alfredo Stroessner, António Salazar, Francisco Franco e os teocratas islâmicos, tais como Omar-al-Bashir, Khomeini, Khamenei, os talibãs do Afeganistão, todos pertencendo a uma galeria de autocratas.

Vladimir Putin é um ditador híbrido, uma vez que, sendo originariamente comunista (era membro da KGB soviética), tem tido praticas políticas de matriz fascista, tanto do agrado de dirigentes tais como Robert Fico, Viktor Orbán e até Donald Trump.   

Ditadores sempre existiram, existem e infelizmente continuarão a existir.

A única linguagem que conhecem e respeitam é a da força.

         Cabe-nos a nós, democracias, sermos e mantermo-nos firmes.

Nos anos 70, deram-se dois acontecimentos de natureza histórico/política, a saber: O escândalo Watergate, em 1972 e a Guerra de Yon Kippur, em 1973.

O caso Watergate era assunto recorrente na imprensa diária. Foi o meu zio Pippo (Giuseppe Licciardello), nas nossas deambulações pela Setúbal de então que me explicou detalhadamente este caso, cujo início se deu em 1972 e que viria a culminar com a renúncia do então presidente do EUA, Richard Nixon em 1974.[

Fiquei então a conhecer Bob Woodward e Carl Bernstein. Fiquei a saber que podia haver corrupção na política; fiquei também a saber a importância de uma imprensa livre, corajosa, responsável, independente de quaisquer poderes.

O outro acontecimento foi, como referi atrás, a guerra de Yon Kippur que opôs Israel a um conjunto de países árabes, entre os quais pontificava a Síria, como um dos principais protagonistas.  

Nessa ocasião, o seu presidente já era Hafez al Assad, pai do presidente deposto Bashar al Assad.

Os Assad dominam a Síria desde 1970, quando Hafez conquistou o poder através de um golpe de estado. E não mais o largou.

Desde então, a dinastia Assad é considerada uma das mais corruptas e repressivas da história recente.

Os ingredientes do costume estão lá todos, a saber:

1 – Ditadura, com um partido único, o Partito Baath, onde qualquer vestígio de contestação resultou em centenas de milhares de mortos, entre opositores, rebeldes e dissidentes. Uma das características do regime era a brutalidade e a rapidez com que qualquer oposição era esmagada. Nos primeiros anos do seu regime, Hafez al Assad eliminou todos os rivais internos, a fim de consolidar o próprio poder.

Bashar al Assad continuou a usar a repressão e a violência. Centenas de milhares de opositores foram presos, torturados e mortos.

Em 2013, o regime usou armas químicas, nomeadamente gás sarin e gás cloro, contra a sua própria população, com o apoio da Rússia e do Irão. Estima-se que em treze anos de guerra civil (2011-2024), tenham sido mortas cerca de meio milhão de pessoas. 

Como dizia cinicamente Estaline “um morto é uma tragédia; um milhão de mortos, um dado estatístico”.

2 – Cleptocracia, ou seja, um regime no qual as riquezas são distribuídas pelo grupo do poder, onde os interesses económicos comuns reforçam as fidelidades políticas.

3 – Nepotismo. Affez al Assad teve seis filhos e uma filha. Bassel, o primogénito foi, desde tenra idade, preparado para suceder ao pai; todavia, morreu num acidente de viação, pelo que se seguiu Bashar um oftalmologista que estudou em Londres, tal como a mulher Asma Akhras. 

Em 2000, quando Hafez morreu, Bashar manteve as principais linhas orientadoras da ditadura.

4 – Culto da personalidade, onde centenas de estátuas de Affez al Assad foram erigidas em cada cidade do país, para além da sua fotografia estar presente em cada loja, autocarro, poste de iluminação, em cada automóvel. “Eu não queria, mas povo é-me muito dedicado”, declarou Assad a um jornalista.

5 – Acumulação de riqueza, dentro e fora do país, para prevenir situações como esta. Segundo o departamento de Estado norte-americano, Bashar al Assad tem um património líquido estimado em 2 mil milhões de dólares, muito dos qual se encontra na Rússia, que, a par com o Irão, tem sido o sustentáculo do regime. Assad tinha uma garagem com mais de 40 carros de luxo.

Em 2019, uma notícia do Financial Times revelou que a família Assad é proprietária de um total de 18 apartamentos de luxo em Moscovo.

6 – Expansão territorial. A maioria não resiste à tentação de tentar conquistar território que não lhes pertence.

Ao longo da minha vida acompanhei o percurso de muitos ditadores. Os comunistas Mao, Pol Pot, Enver Hoxha, Nicolai Ceausescu, Erich Honecker, Fidel Castro, a dinastia Kim, da Coreia do Norte, os fascistas Augusto Pinochet, Jorge Videla, Leopoldo Galtieri, Alfredo Stroessner, António Salazar, Francisco Franco e os teocratas islâmicos, tais como Omar-al-Bashir, Khomeini, Khamenei, os talibãs do Afeganistão, todos pertencendo a uma galeria de autocratas.

Vladimir Putin é um ditador híbrido, uma vez que, sendo originariamente comunista (era membro da KGB soviética), tem tido praticas políticas de matriz fascista, tanto do agrado de dirigentes tais como Robert Fico, Viktor Orbán e até Donald Trump.   

Ditadores sempre existiram, existem e infelizmente continuarão a existir.

A única linguagem que conhecem e respeitam é a da força.

Cabe-nos a nós, democracias, sermos e mantermo-nos firmes.

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