“Nós vamos apenas nascer, vamos abrir a boca de felicidade, vamos esticar as cabeças e metê-las dentro do futuro, vamos beijar-nos boca a boca e rebolar-nos no chão no primeiro frémito que se pareça com um tremor de terra. Nós é que precisamos da arte para nos sentirmos mais reais que a realidade”
Jorge Salgueiro
Hoje iremos falar da Associação Setúbal Voz, da sua Alma Mater, o Coro Setúbal Voz, do Ateliê de Ópera de Setúbal e da Companhia de Ópera de Setúbal.
Muitas dimensões em simultâneo, mas que confluem todas numa matriz conceptual estruturante: o Coro Setúbal Voz, ponto de partida e referência artística subjacente a todos os outros, alicerçado num projecto de música erudita, na procura de uma identidade própria.
Desde 2017, pela talentosa e emotiva mão do maestro Jorge Salgueiro, o nosso coro evoluiu para uma determinada tipologia de linguagem artística, com base na elaboração de novas criações, em profunda relação com as artes contemporâneas.
Com os coros tradicionais, quando as pessoas estão a cantar, parece que o corpo “desaparece”. Com os novos conceitos implementados, os coralistas ocupam, de facto, um espaço real que pode e deve ser “preenchido”, com a consciência de uma procura constante, para se procurar atingir uma plenitude física e artística em palco.
Nesse sentido, em Dezembro de 2019, o Coro Setúbal Voz, deu início a um processo de desenvolvimento vocal individual, a partir de árias de ópera, que culminou com a formação do Ateliê de Ópera de Setúbal, fundado no dia 29 de Fevereiro de 2020, com o recital encenado Édipo, o Rei Lagarto, realizado na Quinta dos Moinhos.
A ideia de fundar uma companhia de ópera em Setúbal começou a germinar durante os ensaios e as récitas para “O Purgatório”, que o Coro Setúbal Voz co-produziu e apresentou com o Teatro O Bando, em 2019.
E assim, no dia 4 de Julho de 2020, decorreu o espectáculo fundador, que marcou o início da Companhia de Ópera de Setúbal, da responsabilidade da Associação Setúbal Voz.
O referido espectáculo de ópera intitulou-se “Os Fantasmas de Luísa Todi”, com produção, concepção geral e direcção artística de Jorge Salgueiro; corporalidade e apoio na criação, Iolanda Rodrigues; iluminação, Tela Negra; cartaz e adereços, Maria Madalena; fotografia, Pedro Soares, com participação via vídeo do Coro Setúbal Voz e cujo elenco foi constituído por Carina Matias Ferreira, Célia Inês Nascimento, Iolanda Rodrigues, João Mendonza, Juliana Telmo, Miká Nunes e Néu Silva, numa parceria com a Câmara Municipal de Setúbal, com os apoios da Junta de Freguesia de São Sebastião, União das Freguesias de Setúbal, Secil e Setulgeste.
No dia seguinte, 5 de Julho de 2020 decorreu o espectáculo intitulado “Nessun Dorma”, um percurso circular com trinta e seis estações: em cada estação um cantor, um músico e uma ária de ópera dos séculos XVII ao XIX.
Estas estações musicais localizaram-se em diversos locais do centro da nossa cidade de Setúbal; das Fontaínhas até à Fonte Nova, passando pela Av. Luísa Todi, Praça de Bocage, etc.
Seis dias depois, aí estávamos nós de novo, a repetir este espectáculo, desta vez no Parque Venâncio Ribeiro da Costa, em Palmela, também com assinalável êxito.
Pela parte que nos toca, membros do Coro Setúbal Voz, é uma alegria imensa, uma enorme satisfação e regozijo fazermos parte intrínseca deste projecto, que, estou certo, irá constituir um motivo acrescido de orgulho, contribuindo decisivamente para um alargamento dos horizontes culturais setubalenses.