Quando o futebol e a política se misturam, normalmente não advém daí nada de bom. Aconteceu isso com Valentim Loureiro no Boavista, Fernando Gomes no Porto, Pedro Santana Lopes no Sporting, João Almeida no Belenenses e com Jorge Goes e Mata Cáceres no Vitória.
Contudo, a situação a que o Vitória Futebol Clube chegou, bem como as relações pessoais e institucionais entre Maria das Dores Meira e Paulo Rodrigues, merecem-nos uma atenção especial.
A Câmara Municipal de Setúbal (CMS) adquiriu o direito de superfície dos terrenos do Estádio do Bonfim. Segundo Maria das Dores Meira, esta operação visou efectuar uma jogada de antecipação, a fim de evitar que outros potenciais interessados pudessem avançar e salvaguardando a sua utilização por parte do Vitória.
A CMS sendo detentora dos terrenos, entende que deve ter outra influência operativa e decisional.
Por outro lado, Paulo Rodrigues foi democraticamente eleito, tendo por isso mesmo a legitimidade para representar, formal e operativamente, o Vitória.
E é aqui que tudo se complica.
No dia 20 de Novembro, dia de aniversário, os galardões e diplomas a atletas e figuras do ano (preparados com tempo de antecedência), não foram entregues pelo Presidente da Direcção do Vitória, Paulo Rodrigues, mas na CMS, na presença de Maria das Dores Meira. Nessa ocasião, a senhora presidente afirmou claramente que Paulo Rodrigues não esteve presente, porque não foi convidado e nem sequer era benvindo.
Nessa cerimónia na CMS, esteve presente o actual Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Nuno Soares.
Nesse mesmo dia foram entregues por Paulo Rodrigues, os emblemas de prata, ouro e platina, aos respectivos sócios e herdeiros, no Estádio do Bonfim. A essa cerimónia, Nuno Soares não esteve presente.
Tais ocorrências indiciam uma preocupante falta de lealdade institucional entre membros de órgãos eleitos na mesma lista, acrescidas das três demissões de membros da direcção, ocorridas anteriormente. Tudo há pouco mais de um mês.
No dia 21 e 22 de Novembro, a equipa principal do Vitória deslocou-se ao Algarve, com encargos de deslocação e estadia, da responsabilidade da CMS, tanto quanto foi divulgado pela Comunicação Social.
Nesse desafio, em que o Vitória venceu o Olhanense por 3-2, estiveram presentes Maria das Dores Meira e o vereador Pedro Pina.
Paulo Rodrigues não esteve presente. E deveria ter estado, como era sua obrigação.
No dia 24 de Novembro, a tão apregoada mudança de fechaduras do Estádio do Bonfim, acabou felizmente por não ocorrer, tendo ambos conseguido conversar.
Por outro lado, está agendada uma AG destitutiva para o dia quatro de Dezembro.
Com todas estas frentes em simultâneo, embora legitimamente eleito, penso que o tempo de Paulo Rodrigues à frente do Vitória começa a esgotar-se.
Não tenho qualquer simpatia pessoal e institucional por Paulo Rodrigues. Acho que está a anos-luz daquilo que entendo dever ser os pré-requisitos, a dimensão e o prestígio de um presidente do Vitória Futebol Clube.
Não me parece que tenha sustentáculo financeiro para inverter esta situação dramática em que nos encontramos.
Paralelamente, esta posição de força extrema por parte da CMS, procurando encostar Paulo Rodrigues “às cordas”, pode querer configurar a existência de alguma solução alternativa para o Vitória, sob a égide da autarquia.
Se assim for, voltamos ao princípio da crónica. Os potenciais riscos decorrentes da tal mistura, muitas vezes promíscua, entre política e futebol.
O futuro o dirá.