PENSAR SETÚBAL: A Adesão da Finlândia à NATO

PENSAR SETÚBAL: A Adesão da Finlândia à NATO

PENSAR SETÚBAL: A Adesão da Finlândia à NATO

, Professor
17 Abril 2023, Segunda-feira
Professor

“A Finlândia tem os olhos virados para a Europa e o traseiro para a Rússia”

 

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Provérbio finlandês

 

Durante este mês de Abril, a Finlândia confirmou a sua entrada na NATO. Para as pessoas da minha geração, medradas na Guerra Fria, tal adesão embora suscite alguma perplexidade, conhecendo a tradicional neutralidade finlandesa, historicamente afigura-se-nos também possuidora de toda a lógica.

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Para isso, temos de recuar até ao ano de 1939. Nesse ano, a  URSS comunista e a Alemanha nazi assinaram o Pacto de Não Agressão Molotov-Ribbentrop, no qual se estipulava que a Finlândia recairia na zona de influência soviética.

De imediato, Estaline exigiu que a Finlândia cedesse território bem como permitisse a criação de bases militares soviéticas, contra eventuais ataques pela Alemanha e Inglaterra.

Ao contrário das Repúblicas Bálticas (Estónia, Letónia e Lituânia) que se vergaram ao poder de Estaline e que não lhes serviu de nada, uma vez que foram posteriormente anexadas, a Finlândia recusou liminarmente essa possibilidade e daí que a 30 de Novembro de 1939 forças soviéticas invadiram território finlandês.

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Contudo, os seus planos de uma guerra-relâmpago do estilo da Blitzkrieg alemã, ruiu devido à tenaz resistência das forças armadas finlandesas.

Embora inferiores em número, os finlandeses actuaram com uma estratégia militar de guerrilha que se viria a revelar muito eficaz.

O Inverno de 1939-40 foi particularmente rigoroso, com temperaturas a atingir os 40 graus negativos. As tropas finlandesas transformaram o frio, a escuridão e a quase ausência de estradas transitáveis, em vantagens estratégicas. 

Vestidos completamente de branco e equipados com esquis, os soldados finlandeses moviam-se com extrema rapidez e eficácia, passando ao contra-ataque em algumas zonas da Finlândia central.

Apercebendo-se dos sucessivos erros cometidos, o alto comando soviético concentrou um cada vez maior número de soldados atacando em várias frentes de batalha.

Nesse momento, a Finlândia esteve seriamente em risco na sua integridade territorial; por seu turno, os russos encontravam desgastados e exaustos numa guerra que se veio a revelar mais longa e dispendiosa que o previsto. 

A seis de Março de 1940, foi assinado um armistício, o Tratado de Paz de Moscovo, em que a Finlândia cedeu 9% do seu território à Rússia, perdendo o acesso ao Mar Árctico, a Norte, boa parte da província da Carélia, a Sul e aceitando ainda declarar-se como país neutral.

A perda mais significativa foi, no entanto, a cidade finlandesa de Viipuri (rebaptizada Vyborg pelos soviéticos), um importante centro industrial e comercial, na altura a quarta maior da Finlândia. Estima-se que cerca 450.000 finlandeses foram obrigados a sair dos territórios cedidos à Rússia.

Foi a péssima prestação do Exército Vermelho na Guerra da Finlândia que deu a Hitler a percepção (errada) que os soviéticos seriam rapidamente subjugados, acelerando os planos da Operação Barbarossa que culminaria com a invasão da União Soviética, em 1941.

 

Quanto à Finlândia, durante os anos seguintes, no período da Guerra Fria, manteve boas relações com a URSS a todos os níveis, evidenciando uma autonomia significativa, mas sempre com agilidade política para nunca irritar ou provocar Moscovo.

Em 1989, a URSS era mesmo o principal parceiro económico da Finlândia; estes conseguiram transformar um aparente constrangimento, numa vantagem, nomeadamente benefícios económicos e prosperidade social.

A ocidentalização da Finlândia independente, sob uma aura de subjugação passiva a certos interesses de Moscovo, ficou conhecida como “Finlandização”.

Se por um lado a aproximação da NATO das fronteiras russas é encarada por estes com bastantes e justificadas reservas, por outro, estes assuntos devem ser discutidos com bom senso e sentido de responsabilidade e nunca recorrendo à guerra.

Vladimir Putin invadiu a Ucrânia. Aquilo que seria uma anexação rápida, transformou-se num atoleiro para os russos. Cerca 175 mil soldados russos mortos.

De seguida, foi acusado pelo Tribunal Penal Internacional de Haia como criminoso de guerra.

A entrada da Finlândia (e previsivelmente da Suécia) na NATO constitui mais um sério revés para a sua estratégia.

A História repete-se. Muitos não aprendem com os seus ensinamentos.

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