Foram assinalados no passado dia 28, na paróquia de S. Paulo, os 50 anos sacerdotais do Pe. José Gusmão. Participaram nesta significativa celebração cerca de duas centenas de membros da comunidade cristã e outros amigos. Foi um fim de tarde de louvor a Deus pelo desempenho pastoral e, como não poderia deixar de ser, uma ocasião para demonstrar afetuosas gratidões ao homenageado.
Ordenou-se sacerdote na Arquidiocese de Évora. Quando, em 1975, foi criada a Diocese de Setúbal (16 de julho), o Pe. Gusmão estava Pároco de Canha, concelho do Montijo, mas integrada na Igreja Eborense. Foi-lhe dada a opção de permanecer na Arquidiocese a que pertencia ou passar para a nova Diocese. Escolheu a nossa Diocese. A nova Diocese ficou mais enriquecida e, como é óbvio, a de Évora mais pobre. Não é bem assim, reconheço. Na dimensão cristã a partilha enriquece quem recebe e quem dá. As duas Dioceses saíram, por isso beneficiadas, pois o desígnio de ambas é que o mundo se configure mais com o amor testemunhado por Jesus Cristo.
Conheci este sacerdote, há 42 anos. Integrei a equipa da Vigararia de Setúbal, coordenada por ele, que apoiava a animação da catequese das crianças. Depois de ter saído, inesperadamente, da minha paróquia de origem, ajudava-o na animação do canto da missa dominical que celebrava na capela do Senhor Jesus do Bonfim. Quando lhe foi confiada a comunidade cristã de S. Paulo, também passei a frequentar as celebrações dessa comunidade que se reunia num pré-fabricado. Tantas saudades tenho desse tempo. A construção do templo, em que se empenhou totalmente, criou melhor condições logísticas, mas perdeu-se muito da familiaridade que no noutro espaço era bastante gratificante. Mais tarde, viemos a dar aulas na Escola Secundária du Bocage, tendo, com ele, integrado, durante 3 anos, o Conselho Diretivo.
O nosso convívio deu origem a uma grande amizade. Aprecio no Pe. Gusmão o assumir-se, antes de tudo, como um homem íntegro e humano. Só nesta condição pode “encaixar-se” a missão sacerdotal. A sua simplicidade é outra maneira de ser facilitadora da sua opção radical por seguir Jesus. A este propósito, ele diz de si mesmo: Quero que vejam em mim um servo, humilde (…). Procuro não dar muito nas vistas, estou por aqui, disponível para atender, para deixar que as pessoas venham ter comigo, para ir ter com elas e conhecê-las o mais possível. Dá nota, assim, da sua capacidade de dar espaço aos outros. Ao referir-se aos membros da comunidade de S. Paulo disse que a sua preocupação era ajudar com humildade cada membro da comunidade a ser ele mesmo e a desenvolver-se como ser distinto dos demais. Ninguém (pároco) se sinta dono da comunidade, mas guiando os demais, o faça, respeitando a individualidade de cada um e sem limitar a sua liberdade. Poderia enunciar outros felizes atributos, mas refiro ainda o que esteve no fundamento da festa do passado dia 28: a fidelidade. Hoje quase tudo é muito volátil, até os compromissos humanos. Manter-se fiel à palavra dada, durante 50 anos, é já para os heróis. Obrigado Pe. Gusmão por tudo e pelo que ainda não fomos capazes de descobrir e desculpe-me alguma “coisinha” menos própria de um amigo. Tantas recordações de bons e maus momentos partilhados.
O Papa Francisco disse: Não pensem só no que vos falta, mas no bem que podem fazer. Isto quer dizer que do Pe. Gusmão ainda há muito de bom a esperar. Assim, Portugal e a Igreja continuam a precisar dele e que não esqueça o que disse um poeta brasileiro: quem sabe faz a hora, não espera acontecer.