A distribuição de riqueza no mundo está cada vez mais desequilibrada e desigual.
Segundo um estudo da Oxfam de 2023, dois terços da riqueza mundial é detida por 1% da população e na última década apenas esses 1% acumularam 50% da riqueza gerada.
Alguns argumentam que toda esta acumulação é fruto do mérito, como se fosse apenas uma questão de capacidades individuais que alguns ganhem mal ou muito mal, e outros ganhem milhões todos os dias.
A verdade é que desde 1980 que, no mundo ocidental, a classe média e os trabalhadores, ou seja, quem vive do seu trabalho, perde poder de compra, enquanto alguns acumulam fortunas incalculáveis. Por exemplo, em 1900 o homem mais rico do planeta, Andrew Carnegie, detinha uma riqueza de 13,6 mil milhões de dólares (a valores de 2023), atualmente o homem mais rico do mundo, Elon Musk, tem uma riqueza estimada de cerca 250 mil milhões de dólares, quase vinte vezes mais.
As razões não estão tanto nas capacidades sobre humanas para trabalhar destas pessoas, mas em motivos estruturais.
Desde a década de 80 que se instalou um consenso político mais ou menos alargado de que impostos altos sobre quem detém mais capital (sejam os super-ricos, ou grandes empresas) é um entrave à economia. Pouco tem importado que esta teoria do “trickle-down economics” já tenha sido contrariada cientificamente.
Aliás, basta ver a insistência do Governo português liderado pelo PSD na descida do IRC como motor da economia, não obstante as previsões do Banco de Portugal de que esta descida, que tem um custo previsto de 420 milhões de euros para os cofres do Estado, teria um impacto na economia de uns míseros 0,1% – e apenas no caso das empresas reinvestirem a totalidade dos proveitos da medida. Ou seja, não só não faz a economia crescer, como ainda retira recursos ao Estado para resolver problemas que é preciso resolver – seja na saúde, nos transportes, na transição ecológica.
Voltando aos super-ricos globais, têm sido os principais beneficiários desta narrativa e deste posicionamento ideológico. Aproveitando as lacunas e as oportunidades que a globalização oferece, estes bilionários globais conseguem o inacreditável para qualquer pessoa: pagam menos impostos, percentualmente, que um professor ou um enfermeiro. Os principais prejudicados? Todos nós.
Por considerarmos esta situação tremendamente injusta, o LIVRE tem insistido neste tema. Pedimos ao Governo que apoiasse as iniciativas internacionais para a taxação dos super-ricos a nível global que foram discutidas no G20 e propusemos no Orçamento do Estado que o Governo estudasse formas de taxação das grandes fortunas. Todas estas iniciativas foram chumbadas pelos partidos de direita. Obrigar quem mais tem a pagar o valor justo de impostos é a única forma de podermos aliviar a carga fiscal da classe média, mas também de garantir que professores, forças de segurança ou profissionais de saúde recebem salários dignos, de ter meios para investir na economia ou de apoiar quem mais precisa.