Os soldados portugueses que se tornaram emigrantes em França no final da Grande Guerra

Os soldados portugueses que se tornaram emigrantes em França no final da Grande Guerra

Os soldados portugueses que se tornaram emigrantes em França no final da Grande Guerra

26 Setembro 2017, Terça-feira

A presença da comunidade portuguesa em França, a mais numerosa das comunidades lusas na Europa e uma das principais comunidades estrangeiras estabelecidas no território gaulês, rondando um milhão de pessoas, está historicamente ligada ao processo de reconstrução francês após o fim da segunda Guerra Mundial. Reconstrução, que em parte, foi suportada por um enorme contingente de mão-de-obra portuguesa que motivada pela procura de melhores condições de vida, e nas décadas de 1960-70 pela fuga à Guerra Colonial e à repressão política do Estado Novo, encontrou nos setores da construção civil e de obras públicas da região de Paris o seu principal sustento.
Mas originariamente, a emigração portuguesa para França está ligada à participação do Corpo Expedicionário Português (CEP) na frente europeia da Grande Guerra (1914-1918), acontecimento bélico que levou para França em 1917 cerca de 55 mil portugueses para lutar nas trincheiras dos aliados britânicos contra o inimigo alemão, e do qual milhares de soldados não regressaram, optando por se tornarem emigrantes em terras gaulesas.
Ainda hoje, existem descendentes destes soldados e emigrantes lusos que preservam a sua memória e zelam o cemitério militar português de Richebourg, no norte de França, um cemitério militar exclusivamente português, que reúne um total de 1831 militares mortos na frente europeia. É o caso da nonagenária Felicia Assunção Pailleux, filha do soldado e depois emigrante João Assunção, um minhoto de Ponte da Barca, que fez parte da 2ª Divisão do CEP e que como outros compatriotas que optaram no final do conflito bélico por não regressar a Portugal, onde grassava uma profunda crise política, económica e social, fixou-se na zona onde combateu, no Norte-Pas de Calais, uma zona de minas de carvão que absorveu muita mão-de-obra.
Ao longo das últimas quatro décadas, Felicia Paileux tem sido a porta-estandarte da bandeira de Portugal nas cerimónias evocativas da Grande Guerra no cemitério de Richebourg e no monumento aos soldados lusos em La Couture, no Norte-Pas de Calais, honrando a memória do seu pai, soldado e emigrante português falecido em 1975, que muito antes da emigração maciça dos anos 60 escolheu como muitos outros antigos companheiros de armas a França para viver, trabalhar e constituir família.

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