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Os portos de Sines: lugares de encontros e subsistência

Os portos de Sines: lugares de encontros e subsistência

Os portos de Sines: lugares de encontros e subsistência

15 Dezembro 2021, Quarta-feira
Gonçalo Naves

Sines sempre se relacionou com o mar. Essa relação, que decorre desde que a nossa memória coletiva tem registo, foi tomando lugar de múltiplas formas.

Hoje, e sem prejuízo da pesca continuar a ocupar o dia-a-dia de muitos sineenses, o diálogo com o mar não só permanece como se intensificou, tornando-se, todavia, distinto, fazendo-se agora sobretudo através do porto de contentores, privilegiada porta de entrada para a Europa e ativo estratégico fundamental para o país.

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A natureza de Sines é ser uma terra de porto e é interessante compreender a simbologia desta circunstância na construção da nossa identidade: o porto como lugar de chegada e de partida, de amores, desamores e despedidas, de lágrimas coletivas e de alegrias íntimas. Ao porto, símbolo do cosmopolitismo em potência, está também reservado um lugar de relevo na imagética construída pela literatura.

Em trechos da sua obra Fernando Pessoa debruçou-se sobre a angústia e a melancolia do porto. Na Odisseia, Homero confere ao porto de mar longas referências e também em Camões encontramo-lo como lugar de refúgio e de abrigo.

Sem esquecer, claro, Melville, com Moby Dick, além de muitos outros. Mas o porto é, também, – e sobretudo – um dos mais destacados e dinâmicos centros de trocas comerciais, constituindo-se como condição sine qua non para a globalização tal como a conhecemos. Não raro se avança até, mais ambiciosamente, que o mais profundo, rigoroso e significativo símbolo da globalização não será o avião, mas o contentor.

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Para a população local, o advento do Complexo Industrial, no virar dos anos 70, representou uma quase cisão com o modo de vida que se praticava até à altura.

A paisagem natural alterou-se, o mar começou a preencher-se por navios com contentores empilhados configurando contornos de construções de lego, o emprego diversificou e expandiu e parte da população passou a conseguir vislumbrar novas e mais otimistas perspetivas profissionais.

Soubemos, nos últimos dias, que o porto de Sines integra, atualmente, o Top 15 dos maiores portos europeus de contentores, de acordo com uma investigação feita pelo especialista Theo Notteboom.

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A pesquisa demonstra que a infraestrutura é uma das que mais tem crescido, tanto no difícil ano de 2020 como nos primeiros nove meses de 2021. O porto é a mais profunda manifestação da identidade da terra; se por décadas foi fundamental para que Sines se estabilizasse como vila piscatória, hoje confere-lhe a força de centro industrial.

É claro e límpido que é no mar e nos portos industrial e piscatório que as famílias de Sines têm vindo a encontrar a sua boa subsistência. Cabe ao poder político o engenho bastante para reconhecer no porto de Sines o maior ativo estratégico das próximas décadas, tanto local como regionalmente.

Invocando a sua natureza de pulmão do próprio Complexo Industrial, devem ser concentrados esforços e procurados novos investimentos que consigam diversificar o tecido empresarial da região, através do porto.

O porto deve constituir-se como um elemento facilitador desta dinâmica e aos poderes central e sobretudo local cumpre ter bem clara esta prioridade: diversificar, dinamizar e ecletizar o tecido empresarial da região, a fim de que deixemos de estar quase totalmente dependentes de um grupo de empresas que apesar de grande na magnitude das suas operações, é pequeno no seu número.

Cumpre-nos agir para que o porto continue a ser lugar de futuro, em Sines.

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