Aluta dos escravos pela liberdade tem sido sistematicamente ignorada, ao longo do tempo, nos documentos orientadores oriundos do Ministério da Educação, logo os manuais escolares de História raramente a referem.
Assim, os estudantes interiorizam a ideia de que os escravos aceitaram pacificamente a escravatura, o que não corresponde à verdade.
De 1501 a 1866, foram levados de África mais de 12,5 milhões de pessoas escravizadas, cerca de 10 milhões tiveram como destino a América. Por diversas vezes, algumas dessas pessoas amotinaram-se durante a viagem, suicidaram-se, assassinaram os seus senhores e capatazes, fugiram para o mato.
No Brasil, os fugitivos formaram os quilombos, em locais de difícil acesso, onde milhares de pessoas conseguiram viver em liberdade. O quilombo dos Palmares chegou a ter 20.000 habitantes. A dança da capoeira, de origem africana, foi um meio de os escravos negros do Brasil se treinarem para enfrentar os seus perseguidores, quando fugiam da escravatura.
A dança foi proibida no Brasil até ao século XX. Hoje é património imaterial da humanidade. As pequenas e as grandes revoltas armadas foram outra forma de as pessoas escravizadas tentarem conquistar a liberdade.
A revolta com maior êxito aconteceu no final do século XVIII, tendo como resultado a independência do Haiti, até então uma colónia francesa. Das várias revoltas dos escravizados na América que aconteceram na primeira metade do século XIX, destacaram-se as de Demerara- antiga Guiana Inglesa-, em 1823, e as dez que ocorreram em Salvador, na Bahia, entre 1807 e 1844.
A chegada de missionários ingleses a Demerara, em 1817, levando consigo a certeza de que todos são filhos de Deus, permitiu que os escravos se fossem manifestando nas igrejas e aprendendo a ler e a escrever.
Do confronto ocorrido com os colonos, em 1823, resultaram cerca de 200 escravos mortos e muitos outros foram enforcados, inclusive o missionário John Smith, acusado de ser o responsável pela rebelião.
A revolta não foi em vão, pois teve como principal consequência a abolição da escravatura nas colónias inglesas decretada em 1833. Das revoltas no Brasil, destacou-se a dos malês, escravos oriundos do Norte de África que seguiam o Islão.
A rebelião foi marcada para o dia 25 de Janeiro de 1835, dia de Nossa Senhora da Guia, aproveitando a distracção de grande parte da população que estaria na festa em homenagem à santa, por outro lado, era neste dia que se encerrava o mês do Ramadão.
O movimento foi denunciado. Sem armas de fogo, os malês foram derrotados. Mais de 100 dos cerca de 500 rebeldes foram mortos, vários outros condenados à morte.
Cerca de 150 foram deportados para África, outros condenados às galés, e os restantes chicoteados. Como os libertos passaram a ser muito mal vistos pela população branca, muitos preferiram partir para África, tendo-se formado uma comunidade de cerca de 700 afro-brasileiros em Lagos, na Nigéria.
Os cerca de 150 malês e os libertos não foram os únicos a voltar para a «terra de negros», pois, em 1822, a Sociedade Americana de Colonização dos Estados Unidos da América, com ajuda governamental, arrendou um território aos chefes tribais da Serra Leoa e mandou para lá milhares de antigos escravos.
Os negros resgatados nos ataques aos navios negreiros, quando o comércio de escravos passou a ser proibido, também foram enviados para lá. Foi assim que nasceu a Libéria, país que se tornou independente em 1847.
Recorde-se que em 1845, o Parlamento inglês aprovou a Bill Aberdeen, lei que estabelecia a apreensão dos navios que transportassem escravos para qualquer parte do mundo, dando cumprimento a acordos estabelecidos entre países onde se praticava o tráfico negreiro.
As ideias iluministas de liberdade e igualdade foram o motor para o arranque das campanhas pela abolição da escravatura, a partir de finais do século XVIII, as quais contaram com o apoio de intelectuais, políticos, religiosos, membros das classes médias e de operários.
O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado no Brasil a 20 de Novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, último chefe do quilombo dos Palmares, que afirmou: «É chegada a hora de tirar a nossa nação das trevas da injustiça social.»