Hoje vamos falar sobre qual o papel da direita no contexto sócio-político português e um pouco mais além. Existe uma tendência recorrente que alguma esquerda tem, em encarar a direita de forma monocromática; basicamente não passamos todos de um bando de fascistas, tendência essa que se tem vindo a agravar com o ressurgimento de uma extrema- -direita protagonizada por Marine le Pen, Donald Trump, Jair Bolsonaro, Recep Erdogan, Victor Orban, Matteo Salvini, Rodrigo Duterte e André Ventura.
Essa esquerda faz estas apreciações monocromáticas por preconceito, desconhecimento, ignorância, estupidez ou má-fé. Tal como a esquerda, a direita é naturalmente policromática. Desde a direita democrática existente no PSD e no CDS, até à extrema-direita não democrática do Chega. A direita votou Marcelo e não votou Ventura. Todavia, a direita ainda tem alguma gente equivocada.
Quando André Ventura efectua aqueles comentários agressivos e xenófobos, existem pessoas que se calam em jeito de complacência; olham com nostalgia para os tempos do Estado Novo, com Salazar, a ditadura, a Guerra Colonial, a censura, a PIDE, a tortura, a repressão, o desterro, a pobreza, o analfabetismo, a emigração. A direita a que pertenço é maioritariamente democrática, pluralista, tolerante, humanista, inclusiva, europeia. O direito à diferença, o enorme respeito por formas de pensar diferentes da nossa. A direita deve olhar com manifesta preocupação e lutar com todas as forças, com o ressurgimento de uma extrema-direita xenófoba, intolerante, retrógrada, musculada e caceteira.
A direita exulta com a derrota de Donald Trump, rejeita a invasão do Capitólio e espera que o seu legado seja remetido para o caixote do lixo da História. Relativamente a Ventura, a esquerda e a comunicação social têm cometido erros sucessivos, atribuindo-lhe demasiada importância, procurando diabolizá-lo (com batom ou com pedradas), não percepcionando que estão a fazer o seu jogo e o do Chega. Estes procuram o que há de pior nas pessoas: frustração, medo, indignação, revolta, irritação, angústia, insegurança.
O Chega é um partido fracturante. E fascista. Todavia, não me parece que a esmagadora maioria dos eleitores que votaram Ventura sejam fascistas; quanto a mim, votaram em protesto contra o sistema, sendo apenas gente que está farta e que não se revê no “politicamente correcto”. Por sua vez, a direita, social-democrata, democrata-cristã ou liberal, tem-se remetido a uma narrativa errática, não se revendo em toda a perigosidade associada à extrema-direita, mas não conseguindo estruturar uma alternativa consistente. As declarações de Rui Rio e de Francisco Rodrigues dos Santos na noite eleitoral, foram de uma pobreza absolutamente confrangedora.
O eleitorado pressente tudo isso e vota noutros sentidos. Seja como for, todos nós, juntos, direita e esquerda, podemos e devemos combater, desmontar e travar a extrema-direita (tal como a extrema-esquerda) no nosso país, não a ilegalizando como pretende Ana Gomes, mas confrontando-a democraticamente, através das ideias, do exemplo. E da História. Com o Fascismo e o Comunismo, escreveram-se algumas das páginas mais horrendas da história da Humanidade. Nos tempos que correm torna- -se mesmo necessário, imperioso, também ser-se de direita, nas atitudes, nos valores, todos os dias, em todas as circunstâncias e em todos os lugares. É necessária dimensão pessoal e social para se viver à direita, de princípios e de acção.