Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte XXV): “Às Mulheres Portuguesas”

Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte XXV): “Às Mulheres Portuguesas”

Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte XXV): “Às Mulheres Portuguesas”

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14 Outubro 2024, Segunda-feira
Professor

O 25 de Abril de 1974 trouxe-nos a Democracia e a Liberdade.

Trouxe-nos também uma outra percepção sobre a importância das mulheres na sociedade e da sua permanente subalternização, ao longo do tempo.

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Se houve alguém que sempre se preocupou com os direitos das mulheres, foi Ana de Castro Osório, reconhecida republicana e feminista do início do século XX.

 Em 1905, Ana de Castro Osório publicou aquele que será o grande marco da luta feminista portuguesa, o livro intitulado “Às Mulheres Portuguesas”, obra que posteriormentefoi traduzida para o francês, o que constituiu, por si só, um feito notável para os padrões editoriais da época.

Neste livro, Ana revela toda a dimensão e profundidade do seu pensamento. Sobre o feminismo escreve, ”Toda a gente aceita uma senhora que tem profissão de medica, pintora, esculptora, engenheira ou professora. Não se sobressaltem os homens com a concorrência, que é antes auxilio(…). E desde que se torne independente pelo próprio esforço, desde que saiba agenciar o pão que come, a casa que habita, os vestidos que veste, sem estar á espera do homem, fonte perene de todo o dinheiro que hoje a sustenta – seja como pai, como marido ou irmão – a sua alforria está decretada.

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Uma vez será um artigo do código que se modifica (porque as leis devem seguir e não preceder os costumes); amanhã um preconceito que cai em desuso; depois um habito que se vence; até que as obrigações se igualam entre as duas metades do ser humano(…) Acabe-se com todas as prepotencias e todos os privilegios, tanto de raça, como de classe, como de sexo, e deixemos que, individualmente, cada homem e cada mulher, procurem ser felizes a seu modo, organizem os seus lares como entenderem”.

Este livro assume uma importância histórica relevante na luta pela emancipação da mulher portuguesa.

Para aferir a importância desta, e de outras obras de sua autoria sobre esta temática, é importante que nos contextualizemos no espaço e no tempo relativamente àquela época.

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No dealbar do século XX, assiste-se a que a esmagadora maioria das mulheres portuguesas da alta e média sociedade, praticamente não estudava, nem trabalhava. “Tocar piano e falar francês” era uma expressão em voga nessa época, que atravessou toda a primeira metade do século XX, e bem para além disso, podendo ainda encontrá-la ocasionalmente em conservas coloquiais, sobretudo com pessoas acima dos cinquenta anos.

A expressão significava que as mulheres eram educadas como fadas do lar. A maioria das aristocratas e das mulheres da alta burguesia sabia ler, escrever, contar, bordar, tocar piano, rezar, ir à missa, atributos considerados indispensáveis para arranjar um bom marido que a protegesse e, sobretudo, que a sustentasse. 

Relativamente às mulheres operárias e rurais a situação era naturalmente bem pior. Em 1911 cerca de 80% das mulheres com mais de sete anos de idade, não sabiam ler nem escrever.

Estavam, portanto, numa situação de acentuada vulnerabilidade legal e social. Foi contra este status quo que Ana de Castro Osório procurou lutar. 

Por outro lado, identifica superiormente alguns velhos vícios do Portugal de então, que ainda teimam em persistir, passados cem anos: “Fomos ha três seculos um punhado de aventureiros que realizou a maior aventura que se havia visto, e imaginámos que tudo será perdoado a quem tanto fez e a quem tão maravilhosamente o soube cantar.

Mas os tempos são outros, as necessidades muito outras e a vida já não se leva a descobrir caminhos por mares nunca dantes navegados(…).O que falta no nosso paiz é a instrução, principalmente a instrução prática que faz progredir um povo. Quando é preciso traçar uma linha férrea, vêm engenheiros do estrangeiro; quando necessitamos de um porto, lá estão as companhias estrangeiras; quando uma cidade quer abastecer-se de água, lá estão os estrangeiros para lha fornecer (…). Não nos deixemos embalar pelo passado; pensemos no futuro, que é o trabalho e a educação”. 

Quer a 1ª República da instabilidade, quer o Estado Novo de Salazar, mantiveram as mulheres acantonadas a um limbo existencial.

Seria o 25 de Abril a dar um significativo e decisivo salto em frente no que concerne aos direitos das mulheres.

E já que estamos a falar de mulheres, estou muito esperançado que Kamala Harris possa vir a ser a primeira mulher Presidente dos Estados Unidos.

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