Os deuses nos livrem de que, alguma vez, os eleitores menos precavidos se deixem cativar pelas habilidades retóricas de um qualquer «salvador da pátria». E que nunca permitam a escolha de um zé da vaca para nosso Presidente – a dignidade do cargo e Portugal não o merecem, nenhuma nação o merece.
Marcelo Rebelo de Sousa é, tem-no provado, um Presidente como deve de ser: verdadeiramente representativo de todos os Portugueses, atento à governação do país e justo com o governo, ponderado no discurso e nas decisões, culto, educado, gentil, humilde, próximo, solidário, popular, autêntico. Responde sem enfados às perguntas dos jornalistas, não nega uma palavra ou um gesto de afetividade a ninguém, com ele não há exibições de seguranças – se os utiliza, não se fazem notar. Há quem lhe critique o estilo. Eu aprecio. E mais, se lhe cotejo a personalidade jovial, aberta e simples com a macambuzice e a enfatuação do anterior PR, que revelou, ainda, ser um adepto fervoroso a envergar a camisola partidária no exercício da função.b
A visita de Marcelo ao Brasil ficou ensombrada pela descortesia inacreditável da grotesca figura das patacoadas mais idiotas – quem não se lembra da sua reação às preocupações dos brasileiros pelo evoluir da pandemia que já ceifou cerca de setecentos mil no país, quando disse que a Covid era uma «gripezinha» e concluiu que o Brasil tinha que deixar de ser «um país de maricas»? Desmarcar, em cima da hora e sem justificação, um encontro e almoço para que havia convidado o nosso Presidente, além de grossaria e soberba de labrego, tratou-se de uma afronta a Portugal e aos Portugueses. Mais uma sandice a desgostar (e envergonhar) os milhões de brasileiros que não votaram no casca-grossa e outros milhões que estarão arrependidos de o terem guindado ao poder.
O azedum de Bolsonaro terá tido origem nos encontros entre Marcelo e três ex-presidentes do Brasil, entre eles Lula da Silva, o que já acontecera na visita anterior. Era o que faltaria, o nosso Presidente não poder encontrar-se com amigos. Condenar estes encontros como provocatórios e «tique colonialista» de Marcelo, desculpe-me senhor Santana Lopes, é opinião que pertence ao domínio dos delírios.
Marcelo desculpou o lamentável incidente diplomático (é um incidente diplomático, sim, senhor Presidente!), com a elevação que lhe conhecemos. E no rescaldo, deu de luva branca. A educação e a inteligência são as melhores respostas às indelicadezas dos broncos, e as relações entre os Estados e os povos terão de estar sempre acima dos problemas entre os indivíduos. O meu aplauso, Presidente Marcelo.
Um senhor, é o que o nosso Presidente é. Sorte nossa. Nem todos os povos a têm.