O Património dos Pobres

O Património dos Pobres

O Património dos Pobres

25 Outubro 2024, Sexta-feira

“Património dos Pobres”, é um título muito sugestivo para esta importante obra social, iniciada, em 1951, pelo padre Américo Monteiro de Aguiar, mais conhecido, simplesmente, por padre Américo, e prosseguida pelo padre Acílio da Cruz Fernandes, a partir do ano de 2003 e até ao seu falecimento, com 92 anos de idade, no dia 13 de Setembro, deste ano de 2024.
O Padre Acílio, durante 63 anos, entre os anos de 1957 e 2020, foi o responsável pela Casa do Gaiato de Setúbal, uma instituição criada no ano de 1955, pelo padre Américo. Este trabalho à frente da Casa do Gaiato de Setúbal, apenas teve um interregno entre os anos de 2001 e 2003, para exercer o mandato para que fora nomeado de director da Obra da Rua, na vila de Paço de Sousa, no concelho de Penafiel.
Após este mandato, regressa às suas anteriores funções de responsável da Casa do Gaiato de Setúbal, que exercerá, como já referimos, até 2020, e iria, igualmente, assumir a responsabilidade do “Património dos Pobres”, do qual nos iria dando testemunho em crónicas regulares no jornal “O Gaiato”.
Nestes artigos, e seguindo as pisadas de humanidade e de uma vida dedicada aos mais desfavorecidos do padre Américo, seu principal mentor, o padre Acílio expressa toda a sua vontade e empenho em servir, com caridade, os mais desfavorecidos e carenciados da nossa sociedade.
As suas palavras, “as dores dos pobres, são as minhas dores” (“O Gaiato, 20/04/2024), é a prova da sua proximidade com o padecer dos demais, e a sua vontade de fazer pelos outros, aqueles que mais precisam de ajuda e não têm mais ninguém a quem possam recorrer. E, também, a necessidade de intervir porque, e por palavras suas, transcritas do mesmo artigo acima citado: “a realidade é tão dura que me faz doer a alma e chorar o coração”.
São poucas as pessoas de dedicação tamanha às causas sociais, como o padre Acílio da Cruz Fernandes, a quem, e até ao seu falecimento, nada era de seu maior agrado, sobre tudo o mais, que não o fazer o bem aos outros, o ajudar verdadeiramente a resolver problemas, muitos deles próximos do insanável.
A mãe angustiada, sem meios financeiros, para pagar a sua habitação, ou os seus problemas de saúde, ou dos seus filhos, ou outras mais situações a precisarem do seu auxílio, e em tudo semelhantes, eram seus principais interlocutores, nesta sua obra social.
E, sempre, a procura de uma solução para os mais diversos problemas: ou dinheiro obtido por doação de um benemérito, quando não com dinheiros próprios, a mais das vezes, substituindo-se às obrigações do Estado, quer na sua vertente social, através da Segurança Social, quer do Serviço Nacional de Saúde. Quantas vezes, obrigando-se a pagar rendas de habitações para que as mães não vissem os seus filhos retirados pela Segurança Social, ou pagando serviços médicos em Hospitais Privados, por inexistência de serviços médicos, em tempo útil, nos Hospitais Públicos.
E estas e outras mais histórias de bem fazer pudemos constatar nas páginas do jornal “O Gaiato”, através das crónicas regulares assinadas pelo padre Acílio Fernandes, ou, ainda, no livro publicado pelo Santuário de Cristo Rei, no ano de 2019, com uma selecção de textos seus publicados nesse jornal, e intitulado “Gestos de Misericórdia num Coração Missionário” (edição que só peca pela não indicação na capa e na folha de rosto do autor do livro, o padre Acílio da Cruz Fernandes).
Ouçam algumas das preocupações do padre Acílio nas suas crónicas: “Desde manhã que estou para escrever o Património e os pobres não me têm deixado. Ele é as rendas de casa, as receitas, a água e a luz cortadas e até o almoço dos pequenos ameaçado de ser suspenso na escola.” (Gestos de Misericórdia num Coração Missionário, Almada: Santuário do Cristo Rei, 2019, p. 157).
E foi, sempre, a fé, a sua mais-valia, dando-lhe uma força suplementar para esta sua obra de grande mérito, mas, igualmente, de enorme sofrimento.
São raros os bons samaritanos, como o padre Acílio Fernandes o foi, e sabe sempre a pouco por muito que seja o nosso convívio. As palavras que trocámos, foram dádivas fugazes, que não me permitiram usufruir, por muito tempo, o seu tamanho entusiasmo e o seu enorme dom.
Por pouco que tenha o nosso convívio e o quanto ficou por dizer, claramente pôde ser compensado pelo muito que o padre Acílio Fernandes nos deixa: sim, isso mesmo, que existem, ainda, homens que não morrem, pois que o seu exemplo de vida permanece, para sempre, entre nós, e esse é o principal Património que nos lega.

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