O novo estatuto do SNS

O novo estatuto do SNS

O novo estatuto do SNS

26 Setembro 2023, Terça-feira
José Luís Ferreira

Depois da aprovação da nova Lei de Bases da Saúde, os portugueses esperavam que o Governo PS aproveitasse as portas que essa Lei abriu, para defender e reforçar o SNS. Agora com a publicação do novo Estatuto percebemos que afinal o Governo PS escolheu outro caminho e ao invés de dar cumprimento às orientações, ao espírito e à letra da Lei de Bases, recua e “dá o dito por não dito”. E de repente, mais uma vez, ocorre-nos a conversa da “palavra dada e da palavra honrada”.

Com efeito, o Estatuto ao invés de dar resposta às evidentes e sentidas necessidades de reforço do SNS, vem acautelar ou potenciar os interesses dos grupos económicos do sector da saúde, hipotecando ainda mais o direito constitucional de acesso aos cuidados de saúde.

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Vejamos, ao permitir a integração no SNS de prestadores de serviços privados, ao estabelecer a cedência externa da exploração de serviços hospitalares e ao admitir a possibilidade da gestão não pública de serviços do SNS, o Governo PS; ignorando literalmente a “natureza supletiva e a necessidade comprovada” que a Lei de Bases impõe; não está a reforçar o SNS, está sim a engordar o mercado dos privados com interesses na área da saúde.

Depois, o Estatuto não vem dar resposta a outro grande problema com que o SNS se confronta e que diz respeito à valorização dos profissionais de saúde, nomeadamente no que se refere à valorização das remunerações e das carreiras, mas também às restantes condições de trabalho.

Não querendo ouvir falar da “dedicação exclusiva”, o Governo PS insiste na “dedicação plena”, que como se sabe, para além de implicar um alargamento do horário de trabalho, permite a acumulação com a atividade no sector privado, e portanto, o Estatuto nada vem resolver do que se pretendia resolver nesta matéria. Aliás, a dedicação é tão plena, tão plena, que ainda estamos para ver em que condições vão os médicos trabalhar, com o alargamento do horário no público e a acumulação no privado.

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Não há, portanto, qualquer esforço do PS no sentido de criar as condições de trabalho para fixar médicos e outros profissionais da saúde no SNS, e sem profissionais, nada feito.

Por outro lado, com este Estatuto, o Governo PS, procura transferir a responsabilidade do Ministério da Saúde para as autarquias locais em matérias que nem sequer encontram suporte legal na lei de transferência de competências, o que é visível nas futuras responsabilidades das autarquias relativas, por exemplo, à construção e manutenção de novas unidades nos Cuidados de Saúde Primários ou ao financiamento direto das autarquias nos Agrupamentos de Centros de Saúde, entre outros casos que aqui poderiam ser referidos.

A este propósito seria oportuno recordar que se a nossa Constituição inclui o acesso à saúde no elenco dos direitos fundamentais, é também porque pretende garantir que todos os portugueses tenham acesso aos cuidados de saúde independentemente da sua situação geográfica.

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Ora, com mais esta desresponsabilização do poder central numa área tão delicada como é a Saúde, este Direito Constitucional Fundamental fica ainda mais comprometido, porque o seu acesso, acaba por ficar dependente da disponibilidade financeira do respetivo município. Foi, aliás também por esse motivo que Os Verdes sempre se opuseram à transferência de competências para as autarquias de matérias que envolvam direitos Fundamentais.

Em jeito de conclusão, bem podemos dizer que com este novo estatuto do SNS, o Governo PS perde uma excelente oportunidade de valorizar e reforçar o SNS. São os custos das maiorias absolutas.

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