O mundo é um moinho

O mundo é um moinho

O mundo é um moinho

20 Maio 2025, Terça-feira
Presidente da Juventude Socialista do Seixal

Portugal é um país com quase 900 anos de história. Recordemos também que, factualmente, as democracias são vírgulas na história das nações. São regimes políticos que precisam de ser ensinados e cultivados desde tenra idade — não creio que sejam naturais ao Homem. As democracias também não morrem logo, não morrem de repente. A descida para o autoritarismo é gradual. Um degrau de cada vez. A democracia não é nenhuma inevitabilidade, nem constitui o fim da história.

A democracia é uma tecnologia para gestão de conflitos. Não é uma necessidade absoluta para a vida em sociedade. Porém, assinalemos o seguinte: foi durante estes últimos 51 anos (em democracia) que o país pulou e avançou como nunca (graças a dois grandes partidos, o PS e o PSD).

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Não deixemos os detratores da nossa Constituição dizer o contrário. Uma mentira contada muitas vezes não passa a verdade. Feito este reparo, resta-me congratular a AD pelo seu resultado nas eleições de domingo. Que saiba estabelecer as pontes necessárias para garantir a governabilidade do país.

Agora, uma análise sobre o sucedido de um social-democrata de esquerda convicto. Sim, o resultado do Partido Socialista é alarmante. Pedro Nuno Santos anunciou a sua demissão do cargo de Secretário-Geral do Partido Socialista. Foi um lutador. Mantém toda a dignidade intacta e salvaguarda o partido. Tomou a decisão correta.

O Partido Socialista é um grande partido da democracia portuguesa. Todos os líderes são circunstanciais e existem, dentro do partido, muitos elementos capazes de levar o PS num rumo necessariamente distinto, que volte a recentrar o partido aos olhos do eleitor.

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Aos mais novos elementos que se identificam com esta grande casa que é o Partido Socialista, o que vos posso dizer é que, em democracia, como na vida, não existem inevitabilidades. O Partido Socialista continua vivo. A democracia continua a existir em Portugal. O quadro constitucional continua em vigor. Saibamos ter a humildade dos derrotados e refletir juntos sobre qual deve ser o rumo a tomar.

Talvez nestas eleições tenhamos falado demasiado pouco de política (este ponto é transversal à maioria dos partidos — é mais societal e estrutural, tendo muito que ver com os mass media e as redes sociais). Ou talvez as nossas políticas não sejam aquelas que os portugueses querem neste momento histórico. Ou talvez os portugueses reconheçam que o Partido Socialista esteve oito anos no governo e que precisa de estar na oposição durante uns tempos. Ou talvez todas estas razões. Ou cada uma delas. Ou talvez a verdade esteja necessariamente num meio-termo.

Não deixa de ser alarmante o seguinte: o que se tenta transmitir hoje através dos mass media acerca dos nossos políticos é, sobretudo, a imagem de que são tipos porreiros e com piada. Isto é perigoso. A política não é um concurso Miss Portugal. Descentra-se o debate do que é essencial e desassocia-se o político das ideias que defende. De Gaulle ou Churchill não eram conhecidos por serem “tipos porreiros”…

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O Partido Socialista é um partido reformista. Um partido responsável. Um partido de governo. Sim, um partido social-democrata de centro-esquerda. Um partido que não precisa de encher a boca de “povo” porque governa para todos os portugueses. Somos um partido interclassista. Um partido que não precisa de acenar com fantasmas de passados malévolos que retornam, pois o que nos interessa é o futuro.

Somos um partido que sabe falar de economia. Uma economia de mercado livre e dinâmica, que, criando riqueza, a consiga distribuir de forma justa por todos os elementos da sociedade. Colaram-nos uma máscara caricatural de estatistas e planeadores centrais que não soubemos retirar. Ficámos com vergonha de falar de economia?

Temos de voltar a falar para todos os portugueses e não apenas para aquele nicho eleitoral que “vai sempre votar”. Precisamos de voltar a falar do futuro. De um futuro melhor para todos, que não se meça em grandes avanços civilizacionais per capita, ou em linhas vermelhas per militante ativo, ou pela quantidade de slogans bonitos que conseguimos por cada mês de governo de direita.

Temos de falar de riqueza. De riqueza que é criada e produzida pelas empresas, pelos trabalhadores com os patrões. Riqueza criada por todos e que possa ser dividida de forma justa por todos. Em qualidade de vida para todos. O PS precisa de falar de crescimento. Sim, precisamos de acelerar, obviamente. O PS sabe falar de economia e tem pergaminhos na matéria.

Do estimado leitor, se ainda estiver a ler este meu desabafo, despeço-me com uma citação. Diz a canção do Cartola: O mundo é um moinho. Os sonhos de amanhãs eternamente melhores ou de futuros sempre mais risonhos e rosados foram triturados. Eram ilusões. Mas nem a vida é só risos ou nasceres do sol cor-de-rosa. O nascer do sol também pode ser em tons de laranja — e está tudo bem!

A realidade insiste sempre em triturar as nossas ilusões. É sempre mais dura, mas também mais bonita na sua complexidade. O moinho é, portanto, este engenho estável, fixo na sua fundação, mas que gira consoante o vento. Em democracia é assim, é suposto ser assim — e, enquanto o moinho girar, podemos permanecer tranquilos. Saibamos, todos os democratas, cuidar do nosso moinho.

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