O mistério da Estrada do Vale de Mulatas

O mistério da Estrada do Vale de Mulatas

O mistério da Estrada do Vale de Mulatas

30 Outubro 2017, Segunda-feira
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Caro leitor, a ideia do título veio do romance (policial) de Eça de Queirós (de parceria com Ramalho Ortigão), O Mistério da Estrada de Sintra. Não irei falar de cenas policiais ou de grande mistério, mas, como diziam Eça e Ramalho no prefácio, de «claras realidades»: da Estrada do Vale de Mulatas e do troço da M-534 (da Estação velha da CP ao cruzamento de Pontes / Quinta do Cantador / Vale de Mulatas). E do seu abandono há, pelo menos, 14 anos, o tempo que levo de Palmela (depois de 11 em Setúbal e de 7 anteriores em Palmela).

Abandono que é igual ao da restante rede viária do concelho, tal como se passa noutros do distrito, em especial nos da Península de Setúbal ─ excepto no de Setúbal, que atacou desde 2013 este martírio diário dos munícipes: circular por Setúbal e Azeitão não é um pesadelo e dá prazer, à funcionalidade das vias junta-se o seu embelezamento.

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Já falei da rede viária noutros artigos: com os Fundos Estruturais-FEDER optou-se pelo transporte individual (e autoestradas) em vez do colectivo ─ em especial, o comboio. Erro crasso, mais grave nas áreas metropolitanas: poluição; perda de horas de trabalho nas filas; acidentes diários; desperdício de energia (importada); stresse das pessoas; alto custo económico; etc. Acresce ainda o desprezo de alguns autarcas pela rede viária: ao inferno do carro particular juntam o dos caminhos de cabras por onde nos põem a circular.

Volto à M-534 e à Estrada do Vale de Mulatas, que ligam a Estação da CP às Pontes (e Alentejo), ao Cemitério da Paz e ao Vale de Mulatas (e Setúbal). Ganhou importância devido à saturação da N-252, à nova ligação da A12 (nas portagens) ao Porto de Setúbal (por Manteigadas), à área de logística em torno da Estação de Palmela / Algeruz, à nova Estação Ferroviária (com muitíssimos passageiros, alguns de Setúbal por ser fácil estacionar) e ao desenvolvimento do maior centro comercial e de serviços de Setúbal (à volta do Monte Belo: Decathlon, Atlântic Park, Media Markt, Alegro, hotéis, empresas Auto, etc.)

Esta via, com um tráfego intenso (e muitos camiões), é hoje crucial na mobilidade local e regional: E não exige grande investimento: os 800 metros do troço da Estrada do Vale de Mulatas requerem limpeza do mato nas bermas (nalguns pontos entra 50 cm na faixa de rodagem); marcações no piso; reparações pontuais; abate de 2 ou 3 pinheiros. Maior é o problema dos 700 metros da M-534, da Estação ao cruzamento, piso e bermas miseráveis e placa central do cruzamento (deslocada do eixo) com o lancil destruído (e restos de para-choques e farolins dos acidentes): uma autêntica vergonha.

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Caro leitor, acha que exagero? Veja as fotos: www.dropbox.com/s/1iyankttxqu45wm/EVM.docx?dl=0 Faixas estreitas, piso superdegradado, buracos nas bermas (até há pouco tempo, ao chover formava-se uma piscina que parava o trânsito: publiquei as fotos, foram logo abrir valas de escoar nas bermas). Quer passar por lá? Não vá a 90 Km/h, vá só a 40: a sua coluna, a suspensão e a direcção do carro agradecem. Afinal, mais de 900 funcionários não vêem isto? Servem só para derreter 50% do orçamento em ordenados (sem contar com horas extra, não há muitos anos foi-se um milhão só num ano). Autarcas, do poder e oposição, visitem, para verem se o que digo é verdade, se as fotos são uma montagem.

Espero que a nova realidade política na Câmara (com maioria da oposição: PS, PSD/CDS e MIM) imponha outras opções, em especial nas desprezadas funções básicas das autarquias, para se acabar com coisas como esta. Senão, em 2021 o eleitorado «premiará» quem manteve este marasmo: que é hoje o principal factor de desânimo e mal-estar dos munícipes.

Caro leitor, o mistério da Estrada do Vale de Mulatas é, afinal, saber a razão deste desleixo. Não é mistério, é o resultado de opções erradas de política autárquica: metade do orçamento para a máquina burocrática; festarolas e fogachos em vez do essencial; decisões erradas que hipotecaram as finanças no passado, no presente e no futuro (600 mil euros/ano de rendas de edifícios: e já foi 725 mil; compra do Espaço Fortuna; etc.)

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