O Lado Invisível da Gravidez: transformações, ambivalências e sinais de alerta:
A gravidez é, antes de ser um estado físico, um estado psíquico.
O corpo prepara-se para gerar, mas é a mente que se reorganiza para acolher um outro dentro de si.
É uma experiência de fronteira entre o conhecido e o desconhecido, onde antigas referências deixam de servir e surgem emoções novas — alegria e medo, esperança e dúvida, tudo misturado.
Mesmo quando é desejada, a gravidez pode trazer insegurança, cansaço e tristeza.
Quando chega de forma inesperada a mulher precisa de tempo para aceitar, compreender e começar a sonhar o bebé que ainda não conhece.
Durante a gestação, existe um trabalho interno silencioso: sonhar o bebé.
Criar um espaço interno para ele, imaginá-lo, dá forma à ligação que está a nascer.
Mas esse processo não é sempre linear — há ambivalência, há construção e há luto pela mulher que se deixa de ser.
Atualmente, esta experiência tão íntima vive sob o peso de um ideal: a gravidez perfeita, no tempo certo, serena, produtiva e feliz.
Mas não existe uma forma certa de estar grávida.
Há gravidezes tranquilas e outras cheias de sobressaltos; há dias luminosos e dias de profunda solidão.
Falar de saúde mental na gravidez é reconhecer esta complexidade e criar espaço para sentir sem culpa.
Ainda assim, é essencial estar atenta a sinais que mostram que o sofrimento pode estar a tornar-se demasiado pesado.
Sinais de alerta a não ignorar
Dificuldade persistente em imaginar, sonhar ou desejar o bebé.
Vazio emocional ou tristeza constante, sem momentos de alívio.
Medo ou ansiedade que não descansam, mesmo em dias calmos.
Isolamento: vontade de se afastar de tudo e de todos.
Sensação de perda de valor ou identidade, especialmente ao pensar no pós-parto.
Desligamento do corpo ou da gravidez, como se tudo estivesse a acontecer “de fora”.
Estes sinais não significam fragilidade — significam apenas que a futura mãe está a precisar de cuidado.
Quando uma mulher engravida, nasce uma criança, mas nasce também uma mãe, um pai e uma família. Mesmo quem já é mãe está sempre a aprender — a ser mãe de dois, de três, ou simplesmente a ser mãe num novo tempo.
Cuidar da saúde mental é cuidar desta passagem, para que o encontro entre mãe e bebé seja vivido da melhor maneira possível.
Esse encontro não é sempre magnífico ou perfeito — e não precisa de o ser.
A maternidade nasce também das falhas, das dúvidas, dos dias difíceis.
O mais importante é que seja um encontro suficientemente bom: capaz de acolher a imperfeição, atravessar desafios e, ainda assim, criar espaço para a ligação, para o afeto e para o crescimento mútuo.
É neste terreno real, humano e possível que a mãe e o bebé podem começar a construir uma história segura, sensível e verdadeiramente deles.