Tudo começou na década de 90 com a celebração do contrato e o início da circulação dos comboios. O serviço ferroviário, especialmente a concessão da Fertagus, que liga a Península de Setúbal a Lisboa é, como bem sabemos, estrutural para a própria Península e para Lisboa.
O atual contrato termina no próximo mês de setembro de 2024[1] e é importante que a questão da renovação da concessão da Fertagus seja amplamente discutida. Este é um tema de grande relevância para a região porque o Governo pode pedir para resgatar o serviço para a CP ou pode renegociar a oferta dos serviços aumentando a mobilidade na região. O aumento dos serviços disponíveis não serão obviamente imediatos dado que não existem propriamente comboios na prateleira para compra e entrada imediata em operação, mas é preciso projetar com tempo e com visão as próximas décadas.
Neste artigo de opinião irei explorar as implicações da renovação da concessão ferroviária da Fertagus na vida das pessoas da região, porque só nestes últimos 20 anos a população residente na Península aumentou em mais de 100 mil habitantes, para um total de mais 800 mil pessoas.
A Fertagus desempenha assim um papel crucial na vida quotidiana da região e a renovação da concessão deve refletir com mais comboios e mais condições para todos os passageiros, traduzido num impacto positivo e contributo para o desenvolvimento sustentável da Península de Setúbal, sendo um transporte pesado, deve funcionar como base para toda a rede de transportes que em si também tem necessariamente de aumentar.
Portanto, a renovação da concessão deve ser vista como uma oportunidade para aprimorar a infraestrutura ferroviária e oferecer benefícios tangíveis à comunidade da Península de Setúbal, que estão em atraso mas também antecipar o futuro em termos de população e comportamentos/ necessidades em matéria de mobilidade e desenvolvimento urbano.
A melhoria do serviço ferroviário deve passar necessariamente por mais oferta e de maior qualidade, ou seja, mais e melhores comboios uma vez que a redução substancial dos lugares sentados prejudicou a qualidade das condições de transporte. Mas vamos tipificar quais as ações que devem ser consideradas.
Em primeiro lugar, a renovação da concessão deve-se concentrar em melhorar a qualidade e aumentar o serviço prestado pela Fertagus, traduzindo-se assim no aumento da frequência, bem como no aumento do número de carruagens nas horas de ponta (em particular nas estações de Penalva, Pinhal Novo, Venda do Alcaide, Palmela e Setúbal, onde atualmente circulam apenas 2 comboios na hora de ponta.
Em segundo lugar, que as estações Expo/Oriente e as Praias do Sado/Instituto Politécnico de Setúbal sejam integradas na rede ferroviária.
Por fim a reposição dos lugares sentados e a requalificação das estações em matéria de segurança e parques de estacionamento.
A Península de Setúbal não pode esperar mais por um pacote de transformação/investimento em matéria de mobilidade, desde as estradas nacionais por construir ou a falta de manutenção das existentes, a expansão do Metro Sul do Tejo, a Ponte Barreiro-Seixal e Barreiro Montijo já muito prometidas[2], o aumento da oferta fluvial sobre o Rio Tejo, e a 3ª travessia sobre o Tejo.
É imperativo para as pessoas e para o ambiente que em matéria de mobilidade, exista uma garantia de qualidade em matéria de oferta, de qualidade e de custo face ao carro.
Por fim, pelo bem comum, espero que o Governo e as Autarquias não olhem para o assunto em cima da hora. Se queremos ter melhor qualidade de vida, não podemos olhar de lado para a mobilidade, a mesma é de cariz estrutural no acesso à educação, saúde e emprego, cabendo às pessoas que estão nos Partidos Políticos tomarem decisões acima de qualquer agenda míope e estéril.
[1] https://eco.sapo.pt/2023/02/28/fertagus-pede-mais-tempo-mas-estado-pode-resgatar-concessao/
[2] https://eco.sapo.pt/2019/01/16/barreiro-seixal-e-montijo-vao-ter-pontes-a-uni-los-ate-2026/