O ano de 2020 ficará incontornavelmente marcado na nossa memória pela pandemia da COVID-19. Na verdade, ninguém poderia ter antecipado a crise sanitária, e as limitações por esta impostas, bem como a devastadora crise económica daí decorrente. O que inicialmente foi definido como um choque da oferta, afetando as cadeias globais de valor e a produção, passou rapidamente a ser um choque da procura, com a paralisação da atividade económica, provocando, desta forma, uma recessão de magnitude nunca antes vista.
Sendo verdade que, numa fase inicial, os partidos da oposição ao Governo demonstraram alguma compreensão para com a elevada complexidade do momento que vivemos, à medida que as dificuldades se somavam, foram gradualmente desertando do espaço das soluções e da razão, para se entregarem à crítica e à exploração da fadiga. O Partido Socialista tem-se apresentado com humildade, sob o princípio de controlar a pandemia e recuperar a economia, não deixando ninguém para trás.
Na alvorada de 2020, Portugal atravessava um momento de fulgor económico, crescendo sustentadamente acima da média europeia e apresentando contas públicas equilibradas, únicas na nossa história democrática. A dimensão de um estadista afere-se na capacidade de gerar prosperidade e, particularmente, de responder com determinação nos momentos de adversidade. Neste contexto, o governo do Partido Socialista está a fazer aquilo que tem de ser feito, independentemente de poder sacrificar popularidade em nome da defesa de Portugal.
Desde 4 de março, foram lançados 22 mil milhões de euros em apoios, dos quais 2,8 milhões de euros a fundo perdido. Perante uma quebra de 17,3 mil milhões de euros no PIB real, o Governo da República introduziu um enorme alívio fiscal e contributivo, moratórias bancárias, deferimentos e pagamentos de fundos comunitários, linhas de crédito, bem como medidas de manutenção do emprego, nomeadamente o lay-off simplificado e o apoio à retoma progressiva. No terceiro trimestre, com o esforço do nosso tecido empresarial, assistimos a uma recuperação assinalável. Com a segunda vaga, surgiram novas restrições e, rapidamente, se efetivaram novas respostas, das quais merece destaque o Programa Apoiar que contou, em menos de 1 mês, com quase 36 mil candidaturas, correspondentes a pagamentos efetuados a 10 mil empresas, no valor de 58 milhões de euros. Conhecemos bem as dificuldades por que passam os nossos empresários e, nesse sentido, decidimos flexibilizar o acesso a um programa de notável eficácia, por exemplo, através da redução de restrições a empresas com dívidas à AT e segurança social.
Falar com verdade é uma obrigação de quem governa. Será impossível compensar todas as perdas geradas pela maior crise do século. Não obstante as dificuldades, é evidente que apenas um Estado forte e inteligente será capaz de apoiar os seus cidadãos. A direita portuguesa vive apaixonada por um Estado minimalista, mas apresenta-se hoje sem ideias concretas, exigindo tudo para todos. Soltos da responsabilidade de decidir, exploram os receios e dificuldades que os portugueses atravessam. A história encarregar-se-á de julgar a ação de cada um nesta hora de provação.
Como disse Roosevelt, “nunca nos podemos esquecer que o Estado somos nós e não um poder etéreo”, pelo que acrescentaria que quanto mais força tiver o Estado, mais força teremos todos nós.