Durante anos, várias concelhias do PS, no Barreiro, na Moita, em Almada, Setúbal, Palmela, Sesimbra, Seixal, Alcochete, acusaram a CDU de terem transformado a margem sul do Tejo num enorme dormitório da cidade de Lisboa. Falavam de forma automatizada em inércia, em adiar o futuro. Frases feitas que no momento certo mereciam sempre o mesmo voto, o voto contra do PS ou uma especial inação, um adiar constante, um suspender de expetativas criadas. Foi assim com as dezenas de vezes em que a CDU propôs a construção do Hospital do Seixal, com as propostas de construção dos novos centros de saúde, com as propostas de construção das esquadras da PSP, dos prometidos quartéis da GNR, da construção das dezenas de pavilhões escolares em falta, com a construção da sempre adiada Terceira Travessia do Tejo, com o alargamento do Metro Sul do Tejo. Tudo competências do governo.
Repetiam que nada se fazia quando o que era feito, era feito quase na exclusividade pelas autarquias. O governo reduzia e reduziu o investimento na Península de Setúbal. Em alguns anos e enquanto aumentavam o investimento em outras regiões, a região de Setúbal tinha como presente do Poder Central verbas reduzidas em 80%.
Na semana passada, foi tudo esclarecido e de vez. Fernando Medina, ministro das finanças, apresentou um projeto, projecto que já foi apresentado pelo menos quaqtro vezes nos últimos 16 anos, dizendo que agora é que é. Que agora o governo vai mesmo fazer aquilo que promete há décadas e vai fazer com que a margem sul deixe de ser um dormitório de Lisboa. Não sei se quer que a capital seja um dormitório do Barreiro ou de Almada até porque devido à política desastrosa de habitação que implementou como Presidente da Câmara, ninguém que trabalhe consegue comprar ou arrendar casa em Lisboa.
Agora é que é, o governo vai fazer o que andou a prometer durante décadas. Agora, muitas autarquias são geridas pelo PS. O que diziam e o que prometiam também não é para cumprir e fazem exatamente ao contrário, aumentando taxas e tarifas, degradando serviços públicos através da sua privatização ou entregando os serviços a empresas sem ligação ao território, com resultados desastrosos como todos podem constatar.
Estamos mesmo a deixar de ser o dormitório de Lisboa até porque as pessoas começam a não ter dinheiro para morar na região de Setúbal.
Mas agora é que é. Desta vez vamos em frente, pontes, fábricas, tudo o que temos direito e que não tivemos. Até o discurso mudou. Neste momento as taxas de execução dos municípios geridos pelo PS quando comparadas com as taxas de execução dos municípios geridos pela CDU são muito mais baixas. Alguns como a Moita, apresentam valores que demonstram uma completa ausência de planeamento e fraca qualidade na gestão. Mas agora é que é, porque desta vez o governo quer e quando o governo quer, já são mais a querer.
Por muito estranho que pareça não abordaram os assuntos fundamentais e que realmente poderiam mudar a região. A construção da Terceira Travessia do Tejo e a aprovação do Plano Regional de Ordenamento do Território que o PS tem “hibernado”, para não dizer “adormecido”, na gaveta onde colocou o socialismo e nem as questões centrais de uma política de habitação que “corre” com as pessoas dos centros urbanos metropolitanos.
Estes sucessivos anúncios pelo menos têm o mérito de mostrar a todos que o PS estava errado. Um mérito que deve ser valorizado porque é o próprio PS que o afirma.
Mas como diz o sábio, na primeira caem todos, na segunda só cai quem quer e na terceira só cai quem anda a dormir e as pessoas não andam a dormir.