Dou início a um conjunto de três crónicas sobre o Convento de S. Francisco, que actualmente se encontra à venda por 5 milhões de euros.
Tenho pelo Convento uma especial predilecção, por ter sido o local onde nasceu minha Mãe. Nessa altura, o referido imóvel pertencia ao Ministério da Defesa e sendo o meu avô Carlos, militar, residia no convento com a minha avó Júlia e filhos.
Antes de mais, devido ao facto de ser uma construção muito antiga, vamos tentar efectuar uma breve cronologia:
1410 – Foi construído o convento, não se conservando vestígios da época da sua fundação. Pertencia a Religiosos Observantes da Província dos Algarves tendo sido, provavelmente, a primeira ordem estabelecida em Setúbal.
1619 – Filipe III de Castela ficou aí hospedado quando visitou Setúbal.
Nos séculos XVII / XVIII, o convento encontrava-se muito degradado.
1747 / 1749 – Executaram-se trabalhos de reedificação.
1755 – Foi severamente atingido pelo terramoto.
1834 – Os frades foram expulsos com a extinção das Ordens Religiosas e o edifício foi incorporado nos bens próprios nacionais, pertencendo ao governo que o vendeu por arrematação a Joaquim O’Neil.
1840 – As ruínas pertenciam à família O’Neil. João O’Neil mandou demolir a maior parte do mosteiro.
No séc. XIX são efectuadas obras no convento.
1874 – Francisco José Pereira compra o mosteiro a João O’Neil e reconstrói-o.
1875 – O mosteiro é comprado por padres da Companhia de Jesus que concluem as obras reedificando a igreja e adaptando o edifício para o estabelecimento de ensino; a igreja estabelece-se na antiga casa do Capítulo.
1876 – Inauguração da igreja e do colégio a 4 de Outubro.
1878 -Estabeleceu-se uma aula gratuita de instrução primária.
1910 – Na sequência da implantação da República, o convento é adaptado a quartel, recebendo o Batalhão de Infantaria 11; com a saída dos militares fica devoluto.
25 de Abril de 1974 – Com a nossa famigerada descolonização, o espaço foi ocupado durante vários, pelos refugiados das ex-colónias, o que contribuiu decisivamente para acentuar o estado de degradação em que o imóvel já se encontrava, nessa ocasião. Após cerca de 11 anos de ocupação, o então primeiro-ministro, António Guterres, assinou um protocolo para o realojamento de 61 famílias (170 pessoas) que aí viviam em condições miseráveis, no âmbito do Programa Especial de Realojamento nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto. Estas pessoas foram realojadas maioritariamente no bairro da Bela Vista
Outubro de 1996 – O projecto do colégio interno de Setúbal, na colina do Castelo de S. Filipe, começou a ganhar forma, O protocolo previa também a cedência do Convento de São Francisco, e dos terrenos adjacentes, à Casa Pia de Lisboa, que deveria proceder à recuperação do imóvel e à construção de outras infraestruturas necessárias para o futuro colégio interno.
Maio de 2004 – Após vários e avultados investimentos realizados (na ordem de 7,5 milhões de euros), a Casa Pia desistiu da implementação de um colégio interno no Convento.
Situação actual – Uma incógnita. Como referi atrás, o Convento e as envolvências estão à venda.
Para analisar toda esta situação em torno do Convento de S. Francisco, torna-se imperioso que tenhamos uma visão sequencial dos principais acontecimentos e intervenções realizadas, principalmente as que foram efectuadas mais recentemente, a fim de podermos tentar ter um vislumbre sobre qual poderá ser a solução que tire, em definitivo, o Convento de S. Francisco, do actual, lamentável, inadmissível e vergonhoso estado de degradação a que tem sido votado, ao longo dos sucessivos anos.
Iremos ver tudo isso nas próximas crónicas.