A justa luta das populações pelo direito à mobilidade entre as margens do rio Sado não merece ser levada para o campo da chamada trica partidária.
Mas também não é possível ficar indiferente àqueles que recorrendo à mentira se tentam apropriar e ter uma espécie de exclusivo dessa luta.
O BE tem insistido, quer na Assembleia Municipal de Setúbal, quer nas páginas de “O Setubalense”, na ideia de que estiveram até agora sozinhos na reivindicação de preços acessíveis na travessia do rio Sado, entre Setúbal e Troia.
Repare-se nestas afirmações: “Várias presidências da Câmara de Setúbal omitiram ou negligenciaram ao longo do tempo a garantia de acesso…” (Jaime Pinho) ou “Os presidentes das Câmaras Municipais de Setúbal, Alcácer do Sal e Grândola também reclamam, do nada, a justeza desta proposta” (Joana Mortágua).
Ora, bastando o recurso à memória ou a uma simples pesquisa para comprovar a absoluta falsidade do que afirma o BE, resta perguntar: o que pretendem?
Mesmo as pessoas mais distraídas conhecem a oposição da CDU e do PCP, bem como dos seus eleitos nas autarquias locais e na Assembleia da República, expressa desde 2007, sobre a travessia do Sado e a concessão que o governo decidiu celebrar com a Atlantic Ferries.
Para além das tomadas de posição nos órgãos autárquicos e na AR, recorda-se, entre outras, a intervenção, em 2008, de Odete Santos, então Presidente da Assembleia Municipal e deputada na Assembleia da República denunciando a situação que transformava a península de Tróia “num local para ricalhaços, vedado ao povo” ou o comunicado do PCP, em 2009, denunciando o aumento brutal dos preços e exigindo a revisão da concessão. Recorda-se, também, a intervenção da Presidente da Câmara Municipal de Setúbal, em 2011, questionando o governo sobre os preços praticados na concessão e propondo a revisão do contrato de concessão do Casino de Tróia para que parte das receitas aí geradas revertessem para a redução efetiva dos preços praticados.
E, já agora, o que dizer do Comunicado do PCP, de março de 2019, onde se lia que: “regozijando-se com a concretização das medidas há muito defendidas e propostas pelo PCP em torno do Passe Social Único, com particular impacto na Área Metropolitana de Lisboa e, em particular, na vida dos Setubalenses que diariamente se deslocam em transportes públicos, não pode aceitar que a travessia do rio Sado fique de fora deste processo”.
E poderá o BE ignorar as ações desenvolvidas já neste mandato por André Martins, Presidente da Câmara Municipal de Setúbal, junto da Área Metropolitana de Lisboa, da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral e do Governo?
Diz Joana Mortágua que “o burburinho da petição parece ter acordado, finalmente, alguns partidos para o assunto”, no entanto, a ideia que fica é que foi o BE que andou a dormir este tempo todo, até ter decido, em 2023, promover uma petição sobre o tema.
Assim, como facilmente se observa, é falsa, injusta e prejudicial para esta luta a ideia que tentam criar de que estiveram até agora sozinhos neste combate.
Uma vez mais, o PCP e os eleitos da CDU, sem sectarismos, nem oportunismos baratos, demonstram que o que realmente interessa é dar voz às populações e resolver o problema, exigindo que o governo garanta o direito à mobilidade entre as margens do rio Sado, com preços socialmente acessíveis, seja no ferry, seja no catamarã.
Numa luta justa onde é de valorizar todos os que a ela aderem e tomam iniciativa, não se compreende a necessidade que alguns manifestam de fingirem que estiveram sozinhos e em vez de promoverem a unidade, semeiam a divisão para ver se reinam.