O autoritarismo brasileiro e as democracias europeias

O autoritarismo brasileiro e as democracias europeias

O autoritarismo brasileiro e as democracias europeias

29 Agosto 2019, Quinta-feira
Francisco Cantanhede - Professor
Francisco Cantanhede – Professor

 

Se olharmos o mapa político mundial, constataremos que, nos últimos tempos, os governos autoritários estão proliferando de uma forma assustadora. Para além de vários países árabes, da Coreia do Norte, da Turquia e da Rússia, de alguns países europeus como a Hungria, onde os atropelos aos Direitos Humanos são o pão nosso de cada dia, destaca-se o Brasil.

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Quando o ex-presidente Lula foi preso e condenado com base nas convicções de um juiz, e não em provas como acontece em qualquer estado democrático, os democratas europeus ficaram com os cabelos em pé, mas em silêncio. Recorde-se que Lula foi condenado por corrupção. A prova? Foi visto a entrar num apartamento, do qual não existe qualquer documento que prove que é propriedade sua. Perante tão estranha condenação, parece que as democracias europeias deram o benefício da dúvida ao sistema judicial brasileiro.

Com a divulgação de informação que demonstra a politização do poder judicial no país irmão, nomeadamente o conluio entre Moro e investigadores da Lava Jato, com vista a impedir a candidatura presidencial de Lula, muitos democratas europeus levantaram a cabeça, olharam em redor, mas pouco mais fizeram. O autoritarismo vai ganhando terreno. O poder judicial decidiu ordenar a transferência de Lula para uma prisão de alto risco, onde poderia dar-se o seu assassinato físico, já que a sua morte política não tinha sido alcançada. Foi então que várias forças democráticas brasileiras se unirem e em uníssono protestaram, fazendo abortar a decisão judicial. E as democracias europeias acordaram? Continuaram no seu sono profundo.

A mesma imprensa que foi aplaudida por Moro e companhia aquando da prisão e condenação de Lula, passou a ser má imprensa ao divulgar o que desagrada ao ex-poderoso juiz que se tornou ministro de Bolsonaro. Todos os que contestam a política de Bolsonaro são logo apelidados de comunistas e terroristas. Veja-se um, apenas um, exemplo da parcialidade da Polícia Federal brasileira: o tablet do neto de Lula, com apenas quatro anos de idade, foi apreendido, mas o telemóvel do delator Eduardo Cunha não foi apreendido nem investigado. A mesma polícia que apreendeu o tablet de uma criança ainda não esclareceu totalmente a morte de Marielle destacada opositora de Bolsonaro. Perante os atropelos aos Direitos Humanos, como reagiram as democracias europeias? Não reagiram.

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Como denunciou o deputado Henrique Fontana, o governo de Bolsonaro pretende acabar com o dia de descanso ao domingo, sendo o trabalhador obrigado a descansar durante a semana. O mesmo homem que declara repetidamente «Deus acima de tudo», esquece que o domingo é o dia sagrado dedicado à família. Como reagiram os Cristãos europeus? Deram a outra face, ou seja, Bolsonaro pode continuar a gritar a palavra Deus e a agir como diabo.

Perante a catástrofe que atinge a Amazónia, chamada por Bolsonaro de «coisa normal», as democracias europeias, finalmente, levantaram a voz. Logo o presidente francês, Macron, a chanceler alemã, Merkel, e outros foram insultados por Bolsonaro e pelos seus rapazes. Até a esposa de Macron não escapou aos insultos do ministro da educação (?) brasileiro.

O Brasil caminha para um sistema politico autoritário, antidemocrático, perante a quase indiferença das democracias europeias herdeiras da democracia ateniense que nasceu no século V a.C. Ou será que, graças ao oxigénio libertado pela floresta amazónica, finalmente, vão encher os pulmões e gritar em defesa da democracia brasileira?

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