No passado mês de fevereiro, o Governo e ANA assinaram um memorando de entendimento tendo em vista a localização, no Montijo – mais precisamente na Base Aérea n.º 6 –, do novo aeroporto complementar de Lisboa.
A decisão de instalar na nossa terra esta importante infraestrutura, apoiada desde a primeira hora pelo Presidente da Câmara Municipal, Nuno Canta, é uma decisão histórica, que representa uma oportunidade única para o Montijo e um conjunto significativo de benefícios para os seus habitantes.
Em primeiro lugar, como todos os portugueses, os Montijenses beneficiam directamente da construção de uma estrutura nova, que responde à perspectiva de esgotamento do aeroporto Humberto Delgado, particularmente relevante perante o crescimento massivo do turismo internacional na região de Lisboa, verificado nos últimos anos.
Depois, como é sabido, em termos indiretos, a instalação de um equipamento desta natureza é um fator promotor do turismo da região, com impactos evidentes, entre outros, nos setores da hotelaria e da restauração.
Por outro lado, o aumento do fluxo de passageiros de e para Lisboa pressionará um melhoramento do serviço de transportes, para lhe dar resposta, de que beneficiam todos os cidadãos que diariamente se deslocam para a capital. Este reforço, que não deixará de passar pelos modos de transportes rodoviário e fluvial, poderá mesmo incluir, conforme já aventou o Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, a construção de uma linha ferroviária ligeira na Ponte Vasco da Gama.
Além disso, entre os serviços que funcionarão nas próprias instalações do aeroporto, e as atividades que indiretamente se desenvolverão com a sua instalação, há uma oportunidade clara de criação de vários novos postos de trabalho no Montijo – de que beneficiam, desde logo, todos os cidadãos que aqui residem – num contexto de criação de riqueza e de valorização do património imobiliário da cidade, que não podemos ignorar.
Finalmente, ao contribuir para o reforço da coesão interterritorial dentro da Área Metropolitana de Lisboa, este projeto consagra verdadeiramente, em termos simbólicos, o desiderato de uma «cidade de duas margens», recuperando o papel histórico do Montijo na ligação à capital, na tradição da Mala-Posta.
Poderá perguntar-se porque defender esta solução aparentemente mais modesta, em detrimento da construção de um Novo Aeroporto Internacional, no Campo de Tiro de Alcochete. Na verdade, não existindo nenhuma incompatibilidade estrutural entre os dois projetos (isto é, o alargamento do aeroporto de Lisboa ao Montijo em nada inviabiliza a construção de um novo outro aeroporto se tal vier a ser necessário, em momento posterior) é fácil perceber, que, no contexto económico que ainda atravessamos, a opção pelo Campo de Tiro se revela mais onerosa, e, consequentemente, mais difícil de acomodar no horizonte de curto prazo em que se joga a possibilidade de o aeroporto Humberto Delgado atingir o auge da sua capacidade. Na escolha entre uma vantagem possível e presente e uma outra incerta e longínqua, o bom senso não deixa grandes dúvidas sobre qual é a melhor opção…
A História mostra que todos os empreendimentos que corresponderam a verdadeiros saltos qualitativos na vida das comunidades, foram precedidos de grande controvérsia. Foi assim há vinte anos com a construção da Ponte Vasco da Gama e não será agora diferente com a instalação do novo aeroporto. Como tudo na vida, eles têm vantagens e desvantagens, que devem ser debatidos com clareza e seriedade.
Mas nestas ocasiões, mais do que em quaisquer outras, o que se espera dos dirigentes políticos é que sejam capazes de perspetivar o médio e o longo prazo, e que mais do que encontrar armas de arremesso para as querelas do imediato, estejam disponíveis para os compromissos que servem os interesses estratégicos das populações. Esperemos, pois que, em ano de eleições autárquicas, todos estejam à altura do desafio.